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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Kim Lawrence

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noiva temporária, n.º 1129 - setembro 2017

Título original: The Demetrios Bridal Bargain

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-275-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Andreos Demetrios, com a sua postura erguida para desafiar as hélices do helicóptero do qual acabara de sair, olhou durante um segundo para o jovem que o esperava e, depois, virou-se para o seu secretário.

Era um desprezo deliberado, mas nada na expressão do jovem denotava que se sentia afrontado por isso. A sua única resposta foi um sorriso irónico.

As pessoas não desprezavam Mathieu Demetrios. E não era só devido à sua altura, media um metro e noventa e quatro, ou pela sua cara, embora se tivessem dedicado páginas de mexericos ao seu perfil clássico que, segundo algumas jornalistas sem muita imaginação, poderia ter aparecido numa moeda grega. Não, o que Mathieu Demetrios tinha era uma coisa mais difícil de definir, uma coisa chamada presença.

Quando falava, as pessoas ouviam. Quando entrava numa divisão, as pessoas viravam-se para olhar para ele… todos menos o seu pai. O pai que, naquele momento, estava a dar instruções ao homem de óculos que saíra com ele do helicóptero. As suas feições patrícias não denunciavam os seus sentimentos enquanto, piscando ligeiramente os olhos cinzentos, observava silenciosamente os dois homens.

Mathieu tinha «graça natural». O seu aspecto era totalmente relaxado enquanto o ar provocado pelas hélices do helicóptero esmagava a camisa contra um peito de músculos definidos, o mesmo ar que abanava o seu cabelo preto.

O homem que falava com Andreos Demetrios era o único dos três que parecia visivelmente incomodado com a hostilidade que vibrava no ambiente.

Mas arriscou-se a enfurecer o financista grego ao sorrir para Mathieu quando passava ao seu lado. Embora fosse difícil saber se o gesto fora agradecido. Ao contrário do seu pai, Mathieu Gauthier… ou Demetrios, como deviam chamar-lhe, não era dado a mostrar os seus sentimentos em público.

Se fosse um homem diferente, o tipo de homem que agradecia um bom conselho, podia tê-lo levado à parte para lhe dizer que, embora as mudanças de humor do seu pai fossem abruptas, podiam ser controladas se aprendesse a ler os sinais de perigo.

Até mostrar uma pequena reacção quando levantava o tom de voz, em vez de permanecer impassível como Mathieu fazia, ajudaria.

A opinião entre os empregados que tinham de presenciar o conflito entre pai e filho estava dividida. Pessoalmente, a sua mente lógica de contabilista não lhe permitia acreditar que alguém queria provocar Andreos Demetrios deliberadamente. Não, ele achava, como muitos outros, que era uma questão de percepção. E alguém que conduzia um carro de corridas para ganhar a vida, como Mathieu Gauthier, não conseguia entender o perigo como o resto dos mortais.

 

 

Só quando o seu secretário se foi embora é que o financista grego olhou para o seu filho. Andreos lera e voltara a ler o relatório que pedira durante o voo, à procura de algum erro.

Se houvesse falhas no relatório tê-las-ia encontrado, mas não havia nenhuma. Era claro, conciso e chegava a conclusões inesperadas e provocantes que só pareciam óbvias depois de indicadas.

Provocante era uma palavra que resumia o seu filho mais velho. Andreos cerrou os dentes enquanto olhava para o jovem de cima a baixo com uma expressão desdenhosa.

Só uma vez em todos os seus anos de casamento é que infringira a sua promessa de fidelidade à esposa que adorava, fora um momento que lamentara e do qual se envergonhara.

Mas o facto de a prova física dessa infidelidade aparecer em forma de adolescente furioso, muito mais dotado intelectual e fisicamente do que o seu meio-irmão fora um pesadelo.

Ironicamente, fora a sua esposa, Mia, não ele, que acolhera aquele rapaz sem mãe com verdadeira generosidade.

O motor do helicóptero parou exactamente quando os dois homens se olharam: os olhos castanhos e penetrantes do pai em frente dos cinzentos frios do filho.

Andreos foi o primeiro a desviar o olhar. E não perdeu tempo com rodeios:

– Vais cancelar essa viagem para… onde quer que ias!

Não havia afecto ou carinho naquela ordem e Mathieu não o esperava. O seu pai nunca fingira sentir afecto por ele, ainda que, antes da morte de Alex, não fosse tão hostil como era naquele momento. Claro que, antes da morte de Alex, tinham passado doze meses sem pai e filho se encontrarem.

Mas a morte do seu irmão mudara tudo isso.

Mudara muitas coisas, pensou Mathieu.

– Escócia.

– Bom, tens de mudar de planos!

Não era uma sugestão. O dono e presidente da Demetrios Enterprises, um gigante global com interesses que iam desde o petróleo até às telecomunicações, não fazia sugestões.

Andreos Demetrios ordenava e as pessoas obedeciam.

Mas o receptor de tão peremptório decreto não parecia obedecer. Mathieu não fazia nada. Na verdade, atingira um nível de imobilidade que pouca gente conseguiria atingir em frente do magnata. Era impossível saber que emoção se escondia por trás do seu rosto enigmático.

Embora Andreos também não parecesse mais perturbado do que o seu filho.

Depois de dar a ordem, começou a caminhar a passo rápido até ao complexo construído sobre as águas brilhantes do mar Egeu e já tinha chegado ao jardim que rodeava a villa quando Mathieu se pôs ao seu lado.

– Vou à Escócia com um amigo e não tenciono mudar de opinião.

A viagem era só em parte de prazer. Jamie pedira-lhe ajuda. Os bancos estavam a dar-lhe problemas e o destino da sua propriedade nas terras altas da Escócia que herdara do seu pai no ano anterior estava em perigo.

«A menos que me ocorra um bom plano, não vão aumentar o empréstimo, Mathieu. Isso significa que não só vou ser o MacGregor que não conseguiu triunfar como piloto de corridas, como serei o MacGregor que perdeu uma propriedade que pertence à minha família há quinhentos anos».

Andreos virou-se, com uma expressão antagónica.

– Sacha e a sua mãe chegam amanhã.

Mathieu conteve um suspiro, pensando que devia ter antecipado aquilo.

– Coisa que te esqueceste de mencionar quando me telefonaste.

O seu pai cerrou os dentes.

– Seria um insulto para elas se não estivesses aqui. A família Constantine e a nossa estiveram unidas durante gerações. O meu pai e…

– E nesta geração não há um filho que possa herdar e não suportas a ideia de a fortuna dos Constantine fugir das tuas mãos – interrompeu-o Mathieu.

Um brilho de raiva apareceu nos olhos escuros do homem.

– E suponho que não te interessas por essa fortuna – indicou, irónico.

– Não me casaria com uma rapariga de dezanove anos para a conseguir.

Uma rapariga que, na verdade, fora noiva do seu irmão. Quando descobrira o noivado, Mathieu sentira-se inclinado a vê-lo com um certo cinismo.

Não era tanto um casamento como uma fusão comercial.

Mas o seu ponto de vista mudara ao ver os dois jovens juntos. Alex e Sacha estavam apaixonados.

– Sacha é muito madura para a sua idade e podias encontrar mulheres muito piores. Essa actriz, por exemplo, que estava colada a ti na estreia. Como se chamava?

Mathieu, sem lhe explicar que estava tudo preparado como publicidade para um filme de baixo orçamento, encolheu os ombros.

– Não faço ideia.

Essa rapariga fora e continuava a ser uma completa estranha, apesar da sua oferta de lhe mostrar como estava agradecida, uma proposta que ele rejeitara.

Não se interessava por esse tipo de «gratidão». O circuito de Fórmula 1 atraía as fãs como um íman. Mulheres que, na sua opinião, representavam o pior da sociedade de então, ridiculamente obcecada pela celebridade.

Frequentemente, sentia a tentação de lhes dizer: «Deixem-me em paz. Não percebem que assim não ganham o respeito de ninguém?». Mas não o fazia porque, se lhes prestasse atenção, era pior. No circuito ganhara a fama de ser um homem distante e impossível. Mudara de profissão, mas a reputação persistia. E, às vezes, corria bem.

– Eu li que os planos de casamento estavam muito avançados.

Mathieu arqueou uma sobrancelha ao detectar o sarcasmo.

– Se fosse a ti, deixaria de ler revistas cor-de-rosa, pai.

– Eu sou eu e tu és tu.

– Certamente. Nem sequer me pareço contigo – Mathieu sabia que se parecia com a sua mãe e, com frequência, perguntava-se se, ao olhar para ele, Andreos se lembraria da jovem que seduzira e abandonara depois.

– Então, não há ninguém… não estás apaixonado?

Mathieu não estava apaixonado nem desejava estar. Pelo contrário, se visse o amor chegar, tinha a intenção de fugir na direcção contrária.

Onde estava o lado fantástico do amor? Não era uma forma temporária de loucura que fazia com que a felicidade dependesse do sorriso de outra pessoa?

Não percebia a atracção.

Além disso, as pessoas que ele amava tinham o hábito de morrer.

Não, apaixonar-se não estava na sua lista de coisas para fazer. A única pessoa em que confiava era ele próprio e era assim que gostava.

– Não entendo porque é que isso te diz respeito. Apesar disso, acho que não há pior destino do que o casamento com uma adolescente, mesmo que seja uma adolescente madura.

– Não estou a dizer para te casares com a rapariga.

– Mas não terias um desgosto se o fizesse e, enquanto isso, farás tudo o que puderes para nos convenceres. És vergonhosamente transparente.

Andreos olhou para ele, frustrado.

– A rapariga é a única filha de Vasilis, a sua herdeira. O seu marido teria…

Mathieu levantou uma mão para o parar.

– Não tens de o dizer, estás a tentar criar outro império. A rapariga tem alguma coisa a dizer nisto?

– Não me fales assim! – protestou Andreos. – E não finjas que não conseguirias fazer com que essa rapariga te amasse se quisesses. Vi-te com as mulheres.

– Sacha não é uma mulher, é uma criança.

– Era suficiente para o teu irmão.

– Porque estavam apaixonados.

– Tu ficaste com tudo o que era de Alex… Porque não Sacha?

Aquelas palavras ficaram a flutuar no ar, aumentando a tensão entre os dois homens até Mathieu encolher os ombros.

– Eu nunca quis nada de Alex.

À excepção de um pouco do amor do seu pai, mas esse desejo só durara até ele fazer dezasseis anos. Estava a viver com os Demetrios há um ano quando ouviu uma conversa que o fez entender que isso nunca ia acontecer.

Mathieu recordou esse momento. Acabara de entrar em casa e a raiva e a frustração no tom de voz normalmente doce da sua madrasta fizera-o parar…

– O rapaz tenta, Andreos. Tenta fazer tudo o que queres e mais. Não podias dedicar-lhe uma palavra de ânimo? Matar-te-ia se sorrisses alguma vez? A única coisa que Mathieu quer é a tua aprovação. Está desesperado para a conseguir. Vejo-o nos seus olhos quando olha para ti e parte-me o coração.

– O que vês nos seus olhos é avareza, Mia. Como é possível que não percebas? O rapaz é duro, desafiante…

– O que se passa é que gostarias que Alex te enfrentasse mais vezes.

– Não é o mesmo. E Mathieu não precisa de amor, o que precisa é de uma mão dura.

– Não uma que se levante com raiva. Se alguma vez…

– Não, claro que não. Já te disse que lamentava, Mia. Tu sabes que nunca levantei a mão a Alex, mas Mathieu mentiu e, quando o apanhámos na mentira, recusou-se a pedir desculpas.

– Pelo amor de Deus, estás cego? Foi Alex que partiu aquele vaso, mas teve medo de confessar. E Mathieu ficou com a culpa para proteger o seu irmão.

– Não é verdade! Não sei o que te contou, mas…

– Não, Mathieu não me disse nada. Foi Alex que me contou.

– Maldito seja esse rapaz! Fez-me… – Andreos passou uma mão pelo cabelo. – Quando olha para mim a única coisa em que consigo pensar é que desejaria que nunca tivesse nascido.

Mathieu ouvira mais do que o suficiente. E, por isso, afastara-se, em todos os sentidos. Magoara-o ouvir a verdade, mas era melhor enfrentar a realidade amarga do que continuar a viver com falsas esperanças.

 

 

– Terás de te desculpar em meu nome. Esperam-me na Escócia.

As faces de Andreos adoptaram uma tonalidade mais escura, mas Mathieu observou o efeito das suas palavras com total distância.

A verdade era que voltara há um ano a pedido da sua madrasta, não do seu pai.

– Dá-lhe um ano – suplicara-lhe Mia. – O teu pai precisa de ti, mesmo que não queira admiti-lo.

Mathieu não quisera entristecê-la, não quisera dizer-lhe que não se importava com o seu pai. Especialmente quando ela acrescentara:

– E quando eu não estiver cá, precisará ainda mais de ti. A empresa e a família, ambos precisam de uma mão forte ao leme. Andreos estava a educar o teu irmão para ocupar o seu lugar…

Então, ele recordou Alexander a pôr uma mão sobre a dele e a dizer:

«Quero ser como tu quando for mais velho. Mesmo que isso signifique que o pai não me ama».

– Alex tê-lo-ia feito bem – mentiu Mathieu.

Mia sorrira, abanando a cabeça.

– Agradeço a tua lealdade, mas ambos sabemos que isso não é verdade. Alex odiava os negócios. Tentou, claro, para agradar ao vosso pai, mas… Andreos teria tido de aceitar algum dia que Alex não poderia ocupar o seu lugar. Porém, tristemente para todos, esse dia nunca chegará.

Quando Mathieu se aproximou para lhe dar um abraço, escondendo a sua surpresa ao sentir a fragilidade da sua madrasta, ela apertou a sua mão com força.

– Promete, Mathieu. Promete-me que o ajudarás, mesmo que ele não to peça.

De modo que prometera. E ficara depois de ter cumprido com a sua promessa, não por sentido de dever, mas porque, curiosamente, gostava do que fazia.

– És um ingrato. Farás o que eu te pedir ou… – Andreos fulminou Mathieu com o olhar, como se o odiasse.

Mathieu arqueou uma sobrancelha, a sua tranquilidade aumentava à medida que o seu pai ficava mais furioso.

– Deserdar-me-ás.

– E não penses que não vou fazê-lo.

– Isso é contigo.

– Esperas que pense que não te importas? – Andreos deu uma gargalhada desdenhosa. – Que não te importas de perder um império que vale milhares de milhões?

– Não te peço para acreditares em nada – respondeu Mathieu, calmamente. – O teu império é teu e podes fazer o que quiseres com ele. Sei que querias deixá-lo a Alex…

– Não te atrevas a pronunciar o seu nome. Ele valia dez vezes o que tu vales.

Mathieu continuou, como se não tivesse havido interrupção:

– Mas isso já não é possível porque Alex morreu.

O rosto sorridente do seu meio-irmão apareceu na sua mente e, por um instante, a sua angústia foi tal que não conseguiu continuar a falar.

Alex, o adorado filho mais novo, poderia ter-se mostrado ressentido devido ao aparecimento de um meio-irmão, mas não fora assim. Antes pelo contrário. O carácter de Alex fora tão alegre e generoso como o seu sorriso.

– Sou o único filho que resta – continuou Mathieu, finalmente. – E tu queres transformar-me em alguém que possa continuar o teu legado – o seu sorriso revelava a total falta de carinho pela ilustre família Demetrios. Escolhera usar o apelido da sua mãe quando começara a sua carreira como piloto de Fórmula 1 precisamente para se distanciar daquela família. – Muito bem, acho que devemos sinceridade um ao outro. Não estou interessado no teu apelido, nem na tua família, nem no teu império. Já não sou uma criança maleável, pai. Fui corrompido, para o bem ou para o mal, e transformei-me no que sou há muito tempo.

Andreos Demetrios empalideceu.

– Eu não tive culpa de não saber da tua existência… a tua mãe… Levei-te para minha casa depois da sua morte.

Como um bisturi, a voz de Mathieu cortou os protestos de Andreos:

– Chamava-se Felicite e não permito que fales da minha mãe! Perdeste esse direito há anos!

Andreos cerrou os dentes. Não costumava receber ordens nem ver um brilho de paixão nos olhos cinzentos e frios do filho cuja existência desconhecera até ele fazer quinze anos.

– Dei-te tudo…

À excepção de carinho.

– Não sou o filho que tu queres – Mathieu encolheu filosoficamente os ombros. – E tu não és o pai que eu teria escolhido. Mas o facto é que sou o único filho que tens.

O magnata chegou-se para trás como se lhe tivesse batido e Mathieu acrescentou, em voz baixa:

– Ambos desejaríamos que fosse de outra maneira.

– De outra maneira? – repetiu Andreos, com uma careta de desdém. – A morte do teu irmão transformou-te no único herdeiro… sim, as tuas lágrimas foram muito convincentes nesse momento – observou, com amargura.

Aquele era um assunto que não costumavam mencionar e, como sempre que se falava do irmão que tanto amava, foi Mathieu que recuou, embora a emoção aparecesse por um instante nos seus olhos.

– Ambos desejaríamos que fosse de outra maneira, mas esta é a situação em que nos encontramos. E sugiro que aprendamos a viver com ela.

– Como te atreves a falar-me desse modo?

Mathieu aprendera da maneira mais difícil que mostrar emoção podia dar vantagem ao seu pai, mas, por uma vez, o seu controlo férreo desapareceu e as suas emoções apareceram à superfície.

– Queres dizer como atrevo a não te falar como uma marioneta?

– Dei-te tudo…

– Deste-me tudo com desinteresse e porque pensavas que era o teu dever. Só me toleras porque esse foi o último desejo de Mia. Não te ocorreu pensar, pai, que se passa o mesmo comigo?

Estava claro pela expressão do homem que não era assim.

– Ela sempre foi amável e generosa comigo, embora a minha existência devesse partir-lhe o coração – Mathieu tentou acalmar-se. – E só por respeito aos seus desejos é que não me fui embora quando morreu.

Os dois homens ficaram em silêncio, ambos a recordar o momento mais difícil da vida de Mia, que ela suportara com uma dignidade que espantara os que tinham tido a sorte de estar ao seu lado.

– No que me diz respeito, a única coisa boa que há em ti é que uma mulher como Mia te amou. Ela deve ter visto alguma coisa que eu não consegui ver.

– Vou para a Escócia amanhã. Faz o que quiseres, pai.