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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Miranda Lee

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A amante proibida do chefe, n.º 2130 - novembro 2016

Título original: The Billionaire Boss’s Forbidden Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9189-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

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Capítulo 1

 

Leah não parou de nadar até fazer vinte piscinas.

Satisfeita com a sessão de exercício, aproximou-se da beira da piscina e agarrou-se aos brilhantes corrimãos da escadaria. Enquanto saía da água fixou o olhar na sua coxa esquerda e nas marcas brancas que a caracterizavam.

Desta vez, não afastou o olhar, como costumava fazer. Em vez disso, obrigou-se a estudar com atenção as cicatrizes à luz do sol da manhã.

Tinham melhorado bastante durante os dois últimos anos, contudo, nunca desapareceriam completamente, aceitou enquanto saía da piscina e pegava na sua toalha.

Suspirou. Não se queria preocupar com as cicatrizes. Era patético inquietar-se por causa de umas miseráveis cicatrizes quando o acidente de carro que as provocara tinha custado a vida à sua mãe.

Não havia nada comparável a essa tragédia, nem sequer o facto de Carl a ter abandonado poucos meses depois do acidente, apesar de ainda estar magoada com o sucedido.

Leah agarrou com força a toalha e esfregou energicamente as cicatrizes enquanto recordava a expressão da cara de Carl quando viu pela primeira vez a sua perna. Fora uma expressão de completa repugnância.

Quando voltara do hospital para casa, durante semanas Carl inventara desculpas atrás de desculpas para não fazer amor com ela até que, por fim, lhe anunciara que queria o divórcio, alegando que ela tinha mudado muito.

E Leah concordava que mudara. Durante os longos dias de dor que passara no hospital descobrira uma pessoa diferente no seu interior. Gostava de pensar que era uma pessoa melhor, alguém com mais carácter, perspicácia e compaixão.

Carl dizia-lhe que se tornara demasiado séria e que já não era divertida. Leah tentara explicar-lhe que acabava de perder a sua mãe, e que era normal que estivesse triste, no entanto, os seus argumentos não o convenceram.

O seu abandono não tivera nada a ver com a sua mudança de personalidade, pensou com amargura. Só tinha a ver com as suas cicatrizes. E com a fraqueza.

Com o tempo recuperara-se da debilidade, porém, as marcas nunca desapareceriam. Nem as cicatrizes das pernas nem as do seu coração.

Por fim tinham chegado a um acordo e continuaram amigos. Afinal, que mulher queria permanecer casada com um homem que não conseguia suportar que a sua esposa não fosse fisicamente perfeita?

Leah era perfeita antes do acidente. Pelo menos fora isso que lhe tinham dito toda a vida.

Leah era a imagem viva da sua mãe. Loira natural de olhos verdes, pele e dentes perfeitos, uma bonita figura e um rosto lindo. Crescera consciente da sua herança genética e do seu estilo de vida privilegiado.

Como filha única de um dos corretores de bolsa mais influentes de Sidney, nunca lhe faltara nada. Mimada toda a vida, a sua educação transformara-a numa princesa da alta sociedade que chegara a acreditar que o mundo era o seu próprio reino. Trabalhar para viver nunca fizera parte dos planos de Leah Bloom. Tinha uma atribuição mensal além do seu cartão de crédito. Por que razão haveria de trabalhar das nove às cinco num emprego aborrecido?

Quando alguém lhe perguntava o que fazia, ela costumava responder que era aspirante a escritora, uma ambição menor que tivera no último ano na escola depois de a sua professora ter elogiado uma das suas redacções. Inscrevera-se num curso de escrita criativa, comprara um computador e começara uma novela cor-de-rosa que era pouco mais do que um diário da sua própria vida. Com a perspectiva dada pelo tempo, Leah chegara a considerá-la bastante tola e superficial.

Como podia ser de outra forma, quando a sua vida fora bastante tola e superficial, todos os dias preenchidos com compras, jantares de gala e longas horas passadas em salões de beleza a preparar-se para sair à noite. Quando fez vinte e um anos já tinha estado em mais festas, estreias e jantares de beneficência que conseguia contar.

Apaixonar-se por Carl e casar-se com ele fora a cereja em cima do seu aparentemente delicioso bolo. Carl era atraente, encantador e rico. Muito rico. A família de Leah não se relacionava com outro tipo de pessoas.

Carl tinha trinta anos quando se casaram e era o herdeiro de uma impressionante fortuna feita com diamantes. Ela tinha vinte e três.

Estavam casados há apenas seis meses quando o acidente acontecera. Demasiado pouco tempo para que Carl tivesse deixado de a amar. Leah chegara à conclusão que, para ele, ela não passava de um objecto decorativo que podia exibir, uma propriedade que tinha valor enquanto era de uma perfeição resplandecente. Assim que aparecera um defeito, deixara de ter qualquer valor ornamental.

– A senhora B. diz que o seu pequeno-almoço estará pronto em dez minutos! – gritou uma voz feminina.

Leah viu o seu pai inclinado sobre a varanda do quarto principal.

Estava vestido com o seu robe azul-marinho de seda e luzia um bronzeado fruto de um Verão dedicado a nadar e a passear de iate. O seu pai aparentava muitos menos anos do que os sessenta e dois que tinha. É claro que se mantinha em forma utilizando o ginásio da sua casa. Um cabelo abundante e cuidadosamente pintado de castanho também ajudava.

– É a única razão pela qual volto para casa todos os fins-de-semana, sabias? – perguntou Leah. – Por causa dos cozinhados da senhora B.

Era mentira, claro. Voltava para casa todos os fins-de-semana para estar com o seu pai e desfrutar do seu carinho paternal. Contudo, não queria viver em casa do seu pai sete dias por semana. Joachim Bloom tinha uma personalidade demasiado dominante e Leah sabia que acabaria por fazer todas as vontades dele, como acontecera com a sua mãe. Embora os seus pais tivessem tido um casamento feliz, era óbvio quem dominava a relação.

– Tolices – retorquiu o seu pai. – Estás magra como o pau de uma vassoura.

– Nunca se está demasiado magra – ironizou Leah.

– Nem se é demasiado rico – o seu pai acabou a frase por ela. – O que me lembra, filha, que tenho um assunto importante para discutir contigo durante o pequeno-almoço, portanto mexe as pernas!

– A boa ou a má?

Tentar que o seu pai não se preocupasse com as suas cicatrizes tornara-se um hábito. Não queria que ele soubesse que ela ainda se sentia incomodada com elas, nem que essa era a razão pela qual não voltara a ir à praia ou a nadar noutro sítio que não fosse a piscina de casa onde só o seu pai ou a senhora B podiam vê-la.

– Muito engraçado – respondeu o seu pai com um piscar de olho, e desapareceu da varanda.

Leah pôs a toalha sobre os ombros e subiu para o seu quarto, um dos seis quartos que havia no segundo andar da mansão onde crescera, em Vaucluse, uma zona residencial muito exclusiva nos subúrbios a leste de Sidney.

Pouco depois da morte da sua mãe, o seu pai pensara em vender a casa e comprar outra noutro local, contudo, Leah conseguira fazê-lo mudar de ideias. Era agradável ter as coisas da sua mãe à sua volta e sentir a sua presença nos quartos.

 

 

Enquanto tomava banho, pensou que talvez o seu pai tivesse mudado de opinião sobre a casa. Se calhar ainda queria vendê-la e era disso que queria falar durante o pequeno-almoço.

«Não deixarei que o faça», pensou enquanto saía do duche. «Lutarei pela casa até à morte!».

Alguns minutos depois, descia as escadas a correr, vestida com umas calças de ganga e um top cor-de-rosa. O cabelo, ainda molhado, estava preso num rabo-de-cavalo.

 

 

Joachim sentiu um aperto no coração quando viu a sua filha entrar a correr na sala de jantar. Como era parecida com a sua mãe! Era como ver Isabel quando tinha vinte anos.

– Se estás a pensar em vender esta casa, papá – exclamou Leah, a olhar para o seu pai enquanto se sentava à mesa, – terás de pensar melhor.

Joachim suspirou. Era fisicamente parecida com a sua mãe, mas não no carácter. Isabel fora uma mulher doce e sempre subjugada a ele.

Leah parecia doce e delicada. Quando era mais jovem fora doce, porém, durante o último ano e meio tornara-se muito mais opinativa e independente. Não propriamente cruel, mas sincera e com carácter.

Mas quem podia culpá-la? Carl era em grande parte responsável por a ter abandonado caprichosamente quando ela mais precisava dele. Aquele homem era um covarde. Se pudesse, Joachim demonstrar-lhe-ia o que pensava dele.

A sua filha tivera duas alternativas durante aquela temporada horrível: desfazer-se em pedaços ou desenvolver uma pele mais grossa.

Durante algum tempo estivera muito perturbada, contudo, Joachim estava muito orgulhoso porque Leah, no final, refizera a sua vida.

– Não, Leah – respondeu, a sorrir. – Não vou vender a casa. Sei que gostas muito dela.

O alívio de Leah foi apenas momentâneo. Então, qual era o assunto que o seu pai queria discutir com ela?

– Então, o que se passa? – perguntou-lhe enquanto tirava uma torrada da bandeja de prata. – Não me vais chatear por causa do meu trabalho, pois não? Pensava que estavas orgulhoso de mim por eu ter um emprego.

Talvez «surpreendido» fosse a palavra que melhor descrevia a reacção do seu pai quando Leah lhe comunicara, há um ano atrás, que estava à procura de emprego. O seu aturdido pai perguntara-lhe o que pensava que poderia fazer.

– Hoje em dia, até mesmo as empregadas têm de ter experiência – dissera-lhe.

Leah entendera o seu cepticismo depois de redigir o seu currículo. Porque não havia muito que pudesse escrever, excepto um certificado da sua muito medíocre passagem pela faculdade, além de um curso breve de escrita criativa. Não tinha nenhuma qualificação para um emprego que exigisse mais do que as suas habilidades sociais, a sua presença e um conhecimento limitado de informática. Por isso, o único emprego que fora capaz de encontrar depois de um número interminável de entrevistas, fora o de recepcionista. E nem sequer era num negócio grandioso na cidade. Trabalhava numa empresa de cosméticos que tinha uma fábrica e um escritório em Ermington, um bairro industrial situado a oeste de Sidney.

– Fico muito contente por estares a trabalhar – insistiu o seu pai. – Estou muito orgulhoso de ti.

A senhora B. interrompeu a conversa ao entrar com um prato cheio de ovos mexidos, tomates fritos e bacon.

– Tem um aspecto delicioso, senhora B – elogiou Leah à governanta do seu pai enquanto esta deixava o prato diante dela.

Leah agradecia no seu interior não poder desfrutar do pequeno-almoço da senhora B. mais do que um dia por semana, se não, teria o rabo do tamanho de um autocarro.

– Só quero que coma tudo – disse a senhora B. com um piscar de olho. – Está muito magra, menina.

– Não conseguirás arranjar outro marido com esse aspecto – disse o seu pai.

Leah poderia ter dito que recusava várias propostas de encontros todas as semanas. No entanto, limitou-se a sorrir com doçura e entregou-se à comida com apetite até que a senhora B. voltou para a cozinha. Então, pousou os talheres no prato e olhou directamente para o seu pai.

– Não tenho intenção de voltar a casar-me, papá.

– O quê? Porquê?

– Tu sabes porquê.

– Nem todos os homens são tão fracos como Carl – resmungou. – Tu és uma jovem linda, Leah. Devias ter um marido. E filhos.

– Não quero discutir sobre isto, papá. Só quero que saibas quais são os meus sentimentos em relação a este assunto, portanto não quero ouvir este tipo de comentários nunca mais.

– Mudarás de opinião. Um dia conhecerás o homem certo e apaixonar-te-ás por ele. A natureza seguirá o seu curso. Lembra-te das minhas palavras.

Leah reprimiu um suspiro. Durante a sua vida, recordara as palavras do seu pai. Amava-o profundamente, porém, nos dois últimos anos percebera que era incrivelmente autoritário e que pensava ser o melhor em tudo.

– Querias dizer-me alguma coisa? – perguntou enquanto engolia. – Suponho que não terá nada a ver com o facto de eu voltar ou não a casar-me. Pareceu-me que irias falar de dinheiro. O que me recorda que também não quero que comeces a dizer-me, outra vez, o que posso ou não posso fazer com o dinheiro da herança. Com esse dinheiro posso fazer o que quiser. A mamã não pôs condições no seu testamento. Se quiser oferecê-lo todo, posso fazê-lo. No entanto, não quero, porque preciso dele para chegar ao final do mês.

– Não é de estranhar – disse o seu pai. – Pelo que me lembro, ganhas uma miséria.

– As mulheres da fábrica ganham bastante menos – particularizou Leah. – E algumas delas têm de manter uma família com aquele salário. O meu objectivo é manter-me com o meu salário. Será bom para a minha forma de ser, ver como a outra metade do planeta vive. Com o meu vencimento, terei de deixar de beber champanhe e afeiçoar-me à cerveja. E agora, diz-me, o que querias falar comigo? – perguntou enquanto comia um pedaço de bacon.

– Come primeiro o pequeno-almoço. Vejo que estás a desfrutar dele. Falaremos durante o café.

 

 

A curiosidade de Leah aumentara quando deixou o seu prato vazio e levantou a chávena de café.

– Bom – disse depois de alguns goles, – diz lá.

– O que sabes da aquisição da Beville Holdings?

– O quê? Estás a dizer-me que o negócio está fechado? – perguntou Leah, alarmada. Até àquele momento a única coisa que ouvira no trabalho era que havia rumores de uma possível aquisição. Muitos das colegas de Leah estavam bastante preocupadas.

Leah ouvira de mais de uma fonte que quando havia aquisições, estas empresas estavam invariavelmente sujeitas a «reestruturações». Estivera a conversar na sexta-feira com um dos novos representantes, um homem muito gentil, com esposa e filhos pequenos. Dissera a Leah que a nova direcção reduzia sempre o pessoal, e a política seguida habitualmente era que o primeiro a ir-se embora era o último trabalhador contratado, sem ter em conta as capacidades. Aparentemente, Peter perdera o seu emprego anterior deste modo e estava preocupado com o facto de poder voltar a acontecer.

– Sim, o negócio já foi fechado – confirmou o seu pai. – Há um artigo sobre este assunto na secção de economia do jornal de domingo, além de uma fotografia do teu novo chefe, Jason Pollack.

– Jason Pollack – repetiu Leah sem muito entusiasmo. – Nunca ouvi falar dele.

Leah podia ter entrado muito tarde no mundo do trabalho, contudo, em casa da sua família faziam-se milhares de jantares onde se falava constantemente sobre os responsáveis por todo o tipo de falsidades do mundo dos negócios cujas caras costumavam aparecer nos jornais.

– Quase ninguém ouviu falar dele – informou o seu pai. – Raramente aparece nos jornais.

– Mostra-me o artigo – pediu ela.

O seu pai passou-lhe o jornal.

– Meu Deus! – exclamou Leah. Esperava ver a fotografia de um homem de meia-idade e bastante gordo.

Os magnatas das empresas quase nunca eram jovens ou magros. Nem tão bonitos.

Alguma coisa dentro de Leah ficou tensa quando os seus olhos se encontraram com os de Jason Pollack. Eram uns olhos castanhos-escuros, profundos e protegidos por umas sobrancelhas tão rectas e firmes como a sua boca. Tinha o cabelo preto e ondulado, penteado para trás. O nariz recto e o queixo quadrado com uma pequena covinha.

– É uma fotografia antiga? – perguntou bruscamente.

– Não, se leres a notícia verás que só tem trinta e seis anos. É muito atraente, não é?

– Acho que sim – disse Leah. – Para quem gosta do estilo – como acontecia com ela, que não conseguia afastar os olhos da fotografia.