Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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O SEGREDO DE ANNIE, Nº 1379 - Avril 2012

Título original: Annie’s Secret

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0264-3

Editor responsável: Luis Pugni

Imagem de capa: ZDENKA DARULA/DREAMSTIME.COM

ePub: Publidisa

Árbol

A DINASTIA BALFOUR

As jovens Balfour são uma lenda britânica, as últimas herdeiras ricas. As filhas de Oscar cresceram no centro das atenções e o sobrenome Balfour raramente deixa de aparecer na imprensa sensacionalista. Ter oito filhas tão diferentes é um desafio.

Olivia e Bella: as filhas mais velhas de Oscar são gémeas não idênticas nascidas com dois minutos de diferença e não podem ser mais diferentes. Bella é vital e exuberante, enquanto Olivia é prática e sensata. A maturidade de Olivia só pode comparar-se com o sentido de humor de Bella. Ambas as gémeas são a personificação das virtudes mais importantes dos Balfour. A morte da mãe, quando eram pequenas, continua a afetá-las, embora expressem os seus sentimentos de maneiras muito diferentes.

Zoe: é a filha mais nova da primeira mulher de Oscar, Alexandra, que morreu tragicamente ao dar à luz. Tal como a sua irmã mais velha, Bella, gosta da vida mundana e costuma exceder-se. Está sempre à espera do próximo evento social. O seu aspeto físico é imponente e os seus olhos verdes diferenciam-na das suas irmãs, mas por detrás da fachada deslumbrante esconde-se um grande coração e o sentimento de culpa pela morte da sua mãe.

Annie: é a filha mais velha de Oscar e Tilly. Annie herdou uma boa capacidade para os negócios, um coração amável e uma visão prática da vida. Gosta de passar tempo com a mãe na mansão Balfour, foge do estilo de vida dos famosos e prefere concentrar-se nos seus estudos em Oxford do que pensar no seu aspeto.

Sophie: a filha do meio é habitualmente a mais tranquila e ela não é uma exceção. Em comparação com as suas irmãs deslumbrantes, a tímida Sophie sempre se sentiu ignorada e não se sente confortável no papel de «herdeira Balfour». Tem o dom das artes e as suas paixões manifestam-se no trabalho de decoração de interiores.

Kat: a mais nova das filhas de Tilly foi protegida durante toda a vida. Depois da morte trágica do padrasto foi mimada por todos. A sua atitude teimosa e mal-educada leva-a a fugir das situações difíceis e está convencida de que nunca se comprometerá com nada nem com ninguém.

Mia: o membro mais recente da família Balfour é a filha ilegítima e meio italiana de Oscar, Mia. Resultado da aventura de uma noite entre a sua mãe e o chefe do clã Balfour, Mia foi criada em Itália e é trabalhadora, humilde e bonita de um modo natural. Para ela, foi difícil descobrir a sua nova família e a desenvoltura social das suas irmãs é difícil de igualar.

Emily: é a mais nova das filhas de Oscar e a única que teve com o seu verdadeiro amor, Lillian. Como é a mais nova da família, as suas irmãs mais velhas adoram-na, ocupa o lugar predileto no coração do seu pai e sempre foi protegida. Ao contrário de Kat, Emily tem os pés bem assentes na terra e está decidida a alcançar o seu sonho de se tornar bailarina. A pressão combinada da morte da sua mãe e a descoberta de que Mia é sua irmã tiraram-lhe as forças, mas Emily tem coragem suficiente para sair de casa do seu pai e seguir o seu caminho sozinha.

PROPRIEDADES DOS BALFOUR

O leque de propriedades da família Balfour é muito extenso e inclui várias residências imponentes nas zonas mais exclusivas de Londres, um apartamento impressionante na parte alta de Nova Iorque, um chalé nos Alpes e uma ilha privada nas Caraíbas muito solicitada pelos famosos… apesar de Oscar ser demasiado seletivo no que diz respeito a quem pode arrendar o seu refúgio. Não está ao alcance de qualquer um.

No entanto, a casa familiar é a mansão Balfour, situada no coração de Buckinghamshire. É a casa que as jovens consideram o seu lar. Com uma vida familiar tão irregular, é o lugar que proporciona segurança a todas elas. É lá que festejam o Natal juntos e, é óbvio, é lá que se celebra o baile de beneficência dos Balfour, o acontecimento do ano, ao qual as pessoas mais importantes da sociedade comparecem e que tem lugar nos jardins paradisíacos da mansão Balfour.

CARTA DE OSCAR BALFOUR PARA AS SUAS FILHAS

Queridas meninas:

Não pode dizer-se que fui um pai muito atento. Foram necessários os acontecimentos recentes e trágicos para me aperceber dos problemas que semelhante descuido causou.

O antigo lema da nossa família era validus, superbus quod fidelis. Ou seja, poderosos, orgulhosos e leais. Baseando-me no cumprimento dos dez princípios seguintes começarei a emendar-me. Vou esforçar-me para encontrar essas qualidades dentro de mim e rezo para que vocês façam o mesmo. Durante os próximos meses espero que todas levem estas regras muito a sério. As tarefas que vou pedir-vos e as viagens que vos mandarei fazer têm por objetivo ajudar-vos a encontrar-se e descobrir como se podem transformar nas mulheres fortes que têm dentro de vocês.

Minhas lindas filhas, descubram como acaba cada uma das vossas histórias.

Oscar

REGRAS DA FAMÍLIA BALFOUR

Estas regras antigas dos Balfour foram transmitidas de geração em geração. Depois do escândalo que se revelou durante a comemoração dos cem anos do baile de beneficência dos Balfour, Oscar apercebeu-se de que as suas filhas careciam de orientação e de propósito nas suas vidas. As regras da família, que ele ignorara no passado, quando era jovem e insensato, voltam a ganhar vida, modernizadas e reinstituídas para oferecer a orientação de que as suas jovens filhas precisam.

1ª regra: Dignidade: Um Balfour deve esforçar-se para não desacreditar o apelido da família com condutas impróprias, atividades criminosas ou atitudes desrespeitosas para com os outros.

2ª regra: Caridade: Os Balfour não devem subestimar a vasta fortuna familiar. A verdadeira riqueza mede-se no que entregamos aos outros. A compaixão é a posse mais valiosa.

3ª regra: Lealdade: Devem lealdade às vossas irmãs. Tratem-nas com respeito e amabilidade.

4ª regra: Independência: Os membros da família Balfour devem esforçar-se para conseguir o seu desenvolvimento pessoal e não contar com o seu apelido ao longo de toda a vida.

5ª regra: Coragem: Um Balfour não deve ter medo de nada. Se enfrentarmos os nossos medos com coragem, conseguiremos descobrir coisas novas sobre nós próprios.

6ª regra: Compromisso: Se fugirmos uma vez dos nossos problemas, continuaremos a fugir eternamente.

7ª regra: Integridade: Não devemos ter medo de conservar os nossos princípios e devemos ter fé nas nossas próprias convicções.

8ª regra: Humildade: Há um grande valor em admitir as nossas fraquezas e trabalhar para as superar. Não podemos descartar os pontos de vista dos outros só porque não concordam com os nossos. Um autêntico Balfour é tão capaz de aceitar um conselho como de o dar.

9ª regra: Sabedoria: Não devemos julgar os outros pelas aparências. A verdadeira beleza está no coração. A sinceridade e a integridade são muito mais valiosas do que o simples encanto superficial.

10ª regra: O apelido Balfour: Ser membro desta família não é só um privilégio de berço. O apelido Balfour significa apoiar os outros, valorizar a família como nos valorizamos e usar o apelido com orgulho. Rejeitar o nosso legado é rejeitar a nossa própria essência.

PRÓLOGO

Estação de esqui italiana, janeiro de 2006

– As tuas amigas deixaram-te sozinha?

Annie, que estivera a olhar com apreensão para a montanha enquanto decidia se devia esquiar ou não na sua primeira pista difícil, sentiu um calafrio nas costas que nada tinha a ver com o perigo da montanha nem com o ar frio, mas com o som daquela voz rouca que falava de forma tão sedutora.

Virou-se para olhar para o homem que falara. Era muito alto e estava vestido de preto. Tinha os ombros largos e a cintura estreita e parecia um daqueles modelos com que a sua irmã Bella costumava trabalhar.

Só que aquele homem não tinha nada de afetado nem de falso.

Os óculos de sol que usava impediram que Annie visse a cor dos seus olhos, mas, sem dúvida, o resto era perfeito. Tinha o cabelo preto e comprido até aos ombros sob o gorro de lã, o rosto bronzeado e o nariz de corte aristocrático.

Quando sorriu, mostrou uns dentes brancos e alinhados.

– Ou mudaste de opinião sobre esta pista? – desafiou-a.

Isso era exatamente o que acontecia. Quando as suas amigas da universidade tinham falado de ir de férias para uma estação de esqui italiana antes de começarem a estudar para os exames finais do verão tivera as suas dúvidas, mas surpreendentemente, fora muito divertido. Estivera um tempo fantástico e todas as noites havia uma festa no chalé.

Depois de anos a sofrer a competição feroz das suas irmãs quando iam esquiar para Klosters, Annie sentira-se a florescer na companhia mais relaxada das suas amigas. Tanto que, agora que só faltavam três dias para acabarem as férias, decidira tentar a pista mais difícil. Infelizmente, quando a última das suas amigas se fora embora para se juntar às outras e beber um chocolate quente na cafetaria da pista, Annie perdera a coragem.

– Estava a descansar um pouco – desculpou-se, com pouca sinceridade.

O desconhecido sorriu.

– Então, talvez queiras fazer uma corrida até lá baixo.

Seria uma tolice e uma loucura aceitar o desafio daquele homem, disse-se Annie.

Uma tolice e uma loucura. Mas depois de ter passado a vida a ser uma jovem responsável e sensível, talvez tivesse chegado o momento de cometer tolices e loucuras.

Esticou-se, decidida.

– Parece-me muito bem – cravou os bastões na neve suave e lançou-se pela encosta.

Era experiente e competente, mas não podia competir com a perícia do desconhecido, que a ultrapassou numa questão de segundos com um estilo muito mais audaz do que o dela.

Embora precisasse de toda a sua concentração para permanecer erguida, Annie não conseguiu evitar observar a elegância do modo de esquiar do desconhecido. Mexia-se com suavidade e firmeza. Quando ela travou ao seu lado ao fundo da pista, tinha as faces coradas e os olhos brilhantes.

– Foi muito divertido! – ela riu-se, com falta de ar.

– Sim – o homem esboçou um dos seus sorrisos calmos e tirou os óculos para deixar a descoberto os olhos mais escuros e profundos que Annie alguma vez vira.

– Queres voltar a tentar? – sugeriu, entusiasmada.

Não queria pôr fim àquele momento. Tinha três irmãs muito bonitas e mais velhas do que ela, por isso não costumava ser o centro das atenções dos homens e muito menos de um tão bonito.

O homem sorriu.

– Por hoje, acabei de esquiar. Quero voltar para o meu chalé e beber um brande.

O brilho desapareceu dos olhos azuis de Annie.

– Ah… – murmurou, claramente desiludida.

Ele olhou para ela com curiosidade.

– Talvez queiras vir comigo.

Annie pestanejou, espantada.

– Eu… quero dizer… sim, eu gostaria – afirmou, assentindo com a cabeça.

– O meu nome é Luc – tirou a luva de esqui antes de lhe estender a mão.

– Annie – respondeu ela, apertando-a.

Luc chegara à estação há alguns dias e reparara no grupo de estudantes universitárias, especialmente naquela jovem em particular, que parecia um pouco afastada das outras. Certamente, não passava desapercebida com o seu cabelo castanho comprido, os olhos azuis brilhantes e aquele fato-macaco de esqui que marcava as curvas femininas. Luc sentia curiosidade por ver aquelas sinuosidades sem o fato de esqui…

Beber um brade com ela poderia servir para, pelo menos, deixar de pensar durante uns instantes na confusão que deixara em Roma.

– Posso esperar aqui se quiseres ir dizer às tuas amigas para onde vais – disse, olhando para a esplanada onde estavam as jovens, a conversar e a rir-se com as suas bebidas quentes.

– Eu… sim – Annie corou. – É muito atencioso da tua parte.

Não tinha nada de atencioso, pensou Luc, com cinismo. A única coisa que queria era assegurar-se de que a noite que estava a começar a imaginar com aquela jovem não era interrompida pela chegada das suas amigas se começassem à procura dela.

Levantou a mão e tocou-lhe com delicadeza na face suave.

– Não me faças esperar muito, está bem? – encorajou-a, num tom rouco.

Annie voltou a sentir o mesmo calafrio. Meu Deus, aquele homem era irresistível. E, por uma vez na sua vida sensata, ela ia ser atrevida.

Imprudente.

E não queria saber das consequências.

CAPÍTULO 1

Lago de Garda, Itália, junho de 2010

– Voltarei dentro de alguns dias, querido – disse Annie, com doçura, através do telemóvel, alheia à beleza do lago que se prolongava do outro lado das janelas do hotel, enquanto descia a toda pressa para a sala de conferências. – Eu também te amo, Oliver… Ai!

Annie parou de forma brusca e dolorosa ao chocar com alguma coisa.

Algo masculino e musculado, reconheceu, quando a mão que levantou para recuperar o equilíbrio foi parar a um ombro largo.

– Lamento – a desculpa de Annie ficou engasgada e empalideceu ao levantar o olhar para aquele rosto atraente.

Não. Não podia ser Luc! Ou sim?

Estava estupefacta. Seria mesmo o homem que conhecera há quatro anos e meio? Só vira Luc com roupa de esqui ou com calças de ganga e camisolas de caxemira e aquele homem usava um fato caro feito à medida e uma camisa branca com gravata cinzenta. Mas era igual ao homem que conhecera e com quem passara uma noite apaixonada há tantos anos.

Aquele Luc tinha o cabelo pelos ombros, e o de agora usava-o curto, mas os olhos, escuros como o ónix e arrogantes, eram os mesmos, e também o nariz e a firmeza do queixo.

Era idêntico e, ao mesmo tempo, parecia diferente.

O Luc que conhecera naquela pista de esqui italiana há quatro anos e meio tinha um brilho despreocupado nos olhos e um sorriso indolente que a tinham atraído como um imã.

Já não havia rasto daquele brilho nos olhos pretos que a observavam com frieza. Uns olhos que não pareciam tê-la reconhecido.

Annie afastou a mão do seu ombro como se queimasse e deu um passo atrás involuntariamente.

Scuse, signore – disse, com falta de ar.

– Falo inglês, signorina – replicou ele, com secura.

Deus santo, aquela voz…

Nem toda a frieza do mundo poderia disfarçar aquela voz que uma noite lhe murmurara palavras carinhosas no pescoço e nos seios enquanto ela alcançava o clímax várias vezes sob os movimentos ferozes do seu corpo…

Era Luc.

Mas um Luc muito mais frio e diferente do que Annie recordava. Então, ela tinha vinte anos e ele tinha vinte e seis e era um jovem selvagem e inquieto. Tudo o que fazia, quer fosse esquiar ou fazer amor, estava cheio de uma energia decidida que desafiava todos a atrever-se a contrariá-lo. A mesma energia que usara para a seduzir.

Ninguém que olhasse para o homem que tinha à frente poderia duvidar de que continuava a possuir aquela firmeza, mas agora essa energia estava firmemente controlada e as suas emoções estavam escondidas por trás de um rosto que só mostrava arrogância e crueldade. Annie tremeu enquanto ele continuava a observá-la com frieza.

A pouca paciência que caracterizava Luc desaparecia com cada segundo que passava. Aquela jovem continuava a olhar para ele fixamente como se tivesse visto um fantasma. Não era uma reação que Luc estivesse habituado a provocar nas mulheres.

Um sorriso cínico curvou-lhe os lábios.

– Ou talvez seja signora? – perguntou.

– Não, acertou ao princípio – respondeu.

Luc lembrou-se de alguma coisa quando ouviu a desconhecida falar em voz baixa. Aquele tom sussurrado era-lhe vagamente familiar.

Reparou na sua estatura média e no corpo delicado, vestido com fato preto e uma camisa branca de seda. Tinha o cabelo castanho preso na nuca e tinha o rosto ovalado. Era um rosto muito bonito de nariz pequeno e lábios sensuais, dominado por uns olhos tão azuis como o próprio lago de Garda.

– Conhecemo-nos, signorina? – perguntou.

Ela pestanejou antes de se rir com incredulidade.

– Não sei, conhecemo-nos? – perguntou ela.

Luc conteve a sua impaciência crescente.

– Eu perguntei primeiro – indicou, com frieza. E no que lhe dizia respeito, podia continuar a perguntar o que quisesse. Durante todos aqueles anos, o seu pior temor fora voltar a encontrar Luc. Sabia que aquele encontro lhe complicaria a vida de um modo que não conseguia começar a imaginar.

E infelizmente, voltara a encontrar-se com ele, chocara com o homem que lhe mudara a vida para sempre… e nem sequer se lembrava dela!

O alívio que devia ter sentido foi substituído por um ressentimento profundo. Aquele homem entrara na sua vida e causara na normalmente reservada Annie Balfour uma paixão que não conhecera antes e que depois desaparecera tão rapidamente como começara.

E agora percebia que o tempo que tinham passado juntos e aquelas lembranças maravilhosas que ela nunca fora capaz de tirar da cabeça tinham significado tão pouco para ele que nem sequer a recordava.

Canalha arrogante!

Annie ergueu o queixo em gesto de arrogância silenciosa.

– Tenho a certeza de que algum dos dois o recordaria se fosse o caso, signore.

Luc não tinha a certeza. A palidez daquela mulher e o ressentimento que denunciava o seu tom pareciam contar uma história completamente diferente em que, segundo parecia, ele não ficava muito bem.

Como filho único e herdeiro de um magnata italiano rico e poderoso, Luc tivera uma juventude privilegiada em que podia satisfazer todos os seus desejos. Como consequência, sabia que se transformara num arrogante. Um jovem arrogante cuja autoestima crescera quando demonstrara ter herdado a visão do seu pai para os negócios. Com dezoito anos, vira-se numa posição de poder dentro do império familiar. Até se arriscar demasiado e o império empresarial do seu pai desaparecer à frente dos seus olhos.

Luc fez uma careta ao pensar naqueles tempos. Durante os últimos quatro anos e meio, concentrou-se única e exclusivamente em reconstruir aquele império para que fosse ainda maior do que antes. Tinham sido uns anos em que mal havia mulheres na sua vida e, as poucas que tivera na sua cama, tinham sido rapidamente esquecidas.

A jovem que tinha à sua frente teria sido uma delas?

Luc pensou instintivamente que não. As mulheres que conhecera então eram invariavelmente loiras, altas, ricas e superficiais. E no entanto, enquanto olhava para ela, continuava a pensar que lhe parecia familiar.

– Parece que esqueceu a sua chamada de telefone – gozou.

Annie olhou, espantada, para o telefone que tinha na mão e através do qual se ouvia uma voz alta.

Oliver.

Face ao impacto de voltar a ver Luc, Annie esquecera completamente que estava a falar com ele. Engoliu em seco.

– Se me desculpar… – virou-lhe as costas deliberadamente e tentou escapar para poder continuar a falar de maneira mais privada.

Embora não soubesse se era capaz de falar normalmente com Oliver depois daquele encontro fortuito e perturbador. De facto, quanto mais depressa pudesse sair de Itália e deixar para trás o homem com quem tivera uma aventura de uma noite da qual ele não se lembrava, melhor para ela.

Consciente de que Itália era o lugar onde conhecera Luc e onde se comportara de forma tão impulsiva, Annie não quisera assistir àquele curso que se celebrava no hotel à beira do lago de Garda. Só o fizera porque o seu pai insistira. Ainda de luto por causa da morte de Lillian, a sua terceira esposa e madrasta de Annie, o seu pai tornara-se ditatorial com as suas filhas, depois do escândalo que sacudira a família durante a celebração, no mês anterior, do centenário do baile de beneficência dos Balfour.

Annie ficou paralisada quando sentiu uns dedos a agarrá-la pelo antebraço que a impediam de se ir embora. Os dedos de Luc. Uns dedos elegantes que, no entanto, possuíam uma força extraordinária. Dedos que a tinham acariciado de forma mais íntima do que os de qualquer outro homem. E que ainda tinham o poder de lhe causar uma descarga elétrica pelo braço e nos seios.

Os olhos azuis de Annie brilharam intensamente quando se virou para olhar para Luc.

– Tire-me as mãos de cima! – exclamou, cerrando os dentes e empalidecendo.

Luc semicerrou os olhos face à veemência do seu tom. Não, antes não o imaginara. Sem dúvida, havia ressentimento e sentia curiosidade.

Não tentou soltá-la.

– Quer jantar comigo esta noite?

Annie esbugalhou os olhos enquanto o observava, espantada, durante alguns segundos.

– Como? – conseguiu dizer finalmente.

Luc sorriu sem indício de humor.