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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Carole Mortimer

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Notícias Do Coração, n.º 731 - Julho 2014

Título original: Keeping Luke’s Secret

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5400-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Volta

Capítulo 1

 

– Doutora Leonora Winston, suponho.

Leonie voltou-se na direcção da porta da sala, de onde um homem a olhava com desdém. Podia ser descrito como sendo um homem alto, moreno e bonito, mas os elogios acabavam aí, porque também era arrogante e profundamente antipático. Nos seus olhos de cor verde pálida havia uma frieza que nem sequer tentava dissimular. Mas havia mais coisas que não lhe agradavam. A primeira era que o seu nome era Leonora. Leo pelo seu avô paterno e Nora pela sua avó paterna, mas nunca ninguém a tinha chamado assim. Toda a gente lhe chamava Leonie. A segunda era que tinha a certeza de que, quando o explorador Stanley se dirigiu ao doutor Livingstone, estava encantado por vê-lo. Contudo o homem que olhava para ela da porta não parecia de todo encantado por vê-la.

De facto passava-se precisamente o oposto, o que era claro pela forma como a olhava, com aqueles olhos desdenhosos. Não, aquele homem não estava contente por vê-la. Mas não sabia o que tinha feito para provocar tal antipatia num completo desconhecido.

– Luke Richmond, suponho – replicou, levantando o sobrolho.

Não pensava deixar-se amedrontar. Não o conhecia de lado nenhum, mas, se pensava tratá-la com rudeza, estava disposta a fazer o mesmo.

O homem olhou-a com os olhos semicerrados.

– Pode ser que esta situação lhe pareça divertida, doutora Winston...

– Por favor, trate-me por Leonie – interrompeu-o ela. – Penso que está enganado em relação ao meu sentido de humor, senhor Richmond. Esta situação não me diverte, mas surpreende-me.

– Porque esperava ver a minha mãe e não a mim? Não se preocupe, verá a minha mãe. Rachel é famosa por chegar sempre atrasada – replicou ele, fechando a porta com um gesto impaciente. – Queria falar consigo a sós antes que se conhecessem.

O sol entrava pela janela, mas estar fechada num apartamento com aquele homem fez com que sentisse um calafrio.

Não eram só os seus olhos pálidos e frios. Era muito alto, quase um metro e noventa, de ombros largos e constituição atlética. Tinha o cabelo curto e vestia uma camisa e umas calças de ganga pretas.

Não parecia muito simpático, mas o mau humor dele podia não ter nada a ver com ela. Ou talvez fosse rude por natureza, de modo que não devia encarar isso como algo pessoal.

– Parece que há aqui um mal-entendido, senhor Richmond...

– Qualquer mal-entendido, doutora Winston, terá sido da sua parte – interrompeu ele. – Não sei que subterfúgio terá usado para obter esta entrevista com a minha mãe, mas asseguro-lhe que...

– Senhor Richmond...

– Não lhe valerá de nada.

– Senhor Richmond...

– Porque a minha mãe não concede entrevistas.

– Eu não sou jornalista! – interrompeu-o Leonie, indignada.

– Nem pensa em escrever a biografia dela – concluiu Luke Richmond sem lhe prestar atenção. – Por razões óbvias.

Uma dessas razões óbvias era a biografia não autorizada da famosa estrela de cinema, Rachel Richmond, que aparecera nas livrarias há dois anos atrás. Uma biografia cheia de comentários exagerados e especulativos sobre a sua vida privada.

Outra razão óbvia devia ser aquele homem, pensou Leonie. Trinta e sete anos, bonito, detentor de dois Óscares pelos seus argumentos de cinema, Luke Richmond era um homem de êxito. Um homem que faria qualquer pai sentir-se orgulhoso. Mas não tinha pai.

Rachel Richmond, estrela de cinema e teatro durante cinquenta anos, nunca se tinha casado e nunca dissera a ninguém quem era o pai do seu filho.

Durante os anos sessenta, quando os estúdios esperavam que os seus actores fossem um exemplo de moralidade, o facto de ser mãe solteira podia ter-lhe custado a sua carreira profissional. Mas Rachel Richmond mantivera-se solteira. Levava o filho consigo para todo o lado e acabou por se converter num exemplo de maternidade. O público não só aceitou que não fosse casada, como também aplaudiu a sua decisão. As especulações sobre a identidade do pai continuaram durante algum tempo, mas a actriz guardou silêncio e, no fim, tudo ficou por isso: especulações.

Leonie perguntou-se como teria Luke Richmond suportado essas especulações ou se Rachel lhe teria confiado a identidade do pai. Se era assim, jamais tinha dito uma palavra à comunicação social.

– Creio que está enganado sobre a razão da minha presença aqui, senhor Richmond.

– Creio que, pelo menos eu, fui perfeitamente claro, doutora Winston – interrompeu ele novamente. – Estou certo de que a senhora é uma estupenda biógrafa. De facto, sei que o é. Li a sua biografia de Leo Winston.

Leonie pestanejou, surpreendida. Não lhe tinha ocorrido pensar que aquele homem se interessasse pelo seu livro.

– Não foi difícil de escrever. Leo é meu avô.

– Eu sei, mas, para além de ser seu avô, também foi um ás dos serviços secretos ingleses durante a Segunda Guerra Mundial.

– Sim – murmurou Leonie.

– A minha mãe leu o livro, antes de mo emprestar. Pensava que a vida do seu avô podia converter-se num bom argumento – disse Luke Richmond.

Ela fez uma careta. Conhecendo o seu avô, nada o horrorizaria mais.

– O meu avô prefere ser conhecido pelo seu trabalho como historiador.

– Um autêntico herói do século XX – replicou Luke Richmond com desdém. – Porém, depois de dar voltas ao assunto, decidi que a história já estava um pouco gasta.

Se queria ser insultuoso, estava a conseguir. Por isso Leonie decidiu não lhe dar a satisfação de responder à letra.

– Deu voltas ao assunto? – perguntou, a olhar para o relógio. Rachel Richmond já estava quinze minutos atrasada.

– O seu avô convenceu-me de que um argumento sobre a sua vida não interessaria a ninguém... sobretudo a ele. Para além disso, não conseguimos chegar a acordo em relação ao actor que faria o seu papel.

Leonie olhou-o, surpreendida. Não sabia que tinha falado com o seu avô. Nem sequer que o tivesse mencionado.

– O meu avô é um homem difícil.

Luke Richmond olhou-a então com um esboço de sorriso.

– Claro. E parece que esse é um traço que herdou.

Ela ficou atónita. Não sabia o que tinha feito àquele homem para que se portasse de forma tão insultuosa, mas era chegado o momento de lhe dizer umas coisas.

– Senhor Richmond.

– Leonie, não sabes como lamento chegar tarde! – Rachel Richmond escolheu aquele momento para aparecer na sala como uma lufada de ar fresco.

Não parecia ter setenta anos. Com um elegante vestido verde e o cabelo louro não muito longo, parecia vinte anos mais jovem.

– Ah, estás com o meu filho.

– Pois...

– Sabes uma coisa? És giríssima, Leonie.

Depois do frio desdém de Luke Richmond, a espontaneidade quente de Rachel Richmond apanhou-a de surpresa. Apesar de não haver dúvidas de que não estava a fingir. Os seus olhos verdes brilhavam de alegria e aquele sorriso que tinha entusiasmado milhões de admiradores em todo o mundo parecia envolvê-la como um raio de luz.

Apesar de lhe agradar o elogio feito por Rachel, não era muito apropriado, já que era demasiado alta, a sua aparência era absolutamente profissional com um vestido de riscas cinzentas, o cabelo louro curto ao estilo de Meg Ryan.

Não era uma mulher bela em absoluto: olhos cinzentos, nariz arrebitado, lábios generosos e queixo firme. Ou seja, não era nada do outro mundo. De facto, parecia exactamente aquilo que era: uma historiadora, como o seu avô.

– Obrigada – murmurou por fim, observando com o canto do olho o sorriso irónico de Luke Richmond.

Ela própria se sentia um pouco incomodada com as efusões da famosa actriz.

– Devias deixá-la em paz, Rachel. Estás a envergonhá-la – disse ele então.

Leo corou.

– Não está nada a envergonhar-me. Senhora Richmond, o seu filho parece ter a impressão de que vim incomodá-la...

– Não é apenas uma impressão, é a verdade.

– Luke, por favor – admoestou-o a mãe. – Leonie ainda não compreende o teu sentido de humor.

Sentido de humor? Aquele homem tinha sentido de humor? Só uma mãe demasiado indulgente para pensar assim.

– Acho que te enganas, Rachel. Eu penso que a doutora Winston me compreende perfeitamente.

Claro que o compreendia. Era ele quem estava completamente equivocado sobre as suas razões para visitar a actriz.

– Senhora Richmond...

– Por favor, chama-me Rachel. Luke, meu amor, pediste à Janet que nos servisse um chá aqui?

– Não.

– Pois fá-lo, por amor de Deus – interrompeu a mãe severamente, tomando Leonie pelo braço. – Apetece-te dar um passeio pelo jardim, antes de tomarmos um chá? Quero que me contes muitas coisas. Nunca conheci uma historiadora. Deve ser emocionante triunfar num campo que até agora tinha estado quase exclusivamente reservado aos homens.

Leonie ouvia com reservas. Na realidade, Rachel Richmond não a deixava falar e ela estava demasiado distraída a observar a expressão furiosa do filho. Era notório que, se pudesse expulsá-la dali ao pontapé, fá-lo-ia.

– A sério, estou encantada por te conhecer. Gostei muito do teu último livro.

– O meu primeiro livro – corrigiu Leonie. – E o último. Por agora.

– Espero que não, querida.

– Senhora Richmond...

– Por favor, trata-me por Rachel – insistiu a actriz. – Toda a gente me chama assim. Até o meu filho.

Leonie não se sentia à-vontade para a tratar de forma tão íntima. Aquela mulher era uma estrela de cinema, um ícone para os seus admiradores. Ainda era capaz de despertar o interesse das multidões de cada vez que aparecia em público, ainda era capaz de atrair milhares de pessoas a um teatro as raras vezes que decidia aparecer em palco.

– Rachel, o teu filho parece pensar que...

– Não te preocupes com Luke – interrompeu ela. – É muito protector. Sempre foi um rapaz tão sério – acrescentou afectuosamente.

– Rapaz?

Aos trinta e sete amos, Luke Richmond não era propriamente uma criança.

Rachel riu-se suavemente.

– Para mim, será sempre um rapaz. E asseguro-te que ladra, mas não morde.

Leonie tinha as suas reservas. Muito seriamente. Mas que Luke Richmond fosse um idiota e um arrogante não lhe devia interessar para nada. Não pensava vê-lo mais do que o estritamente necessário.

– Está a fazer-se tarde, senhora Richmond... Rachel.

– Quanto tempo demoraste a chegar a Hampshire?

– Uma hora. E tenho outro compromisso em Londres, pelo que...

– Ainda bem que vieste cá. Ultimamente não tenho ido a Londres.

– A verdade é que terei de partir dentro em pouco e...

– Não adoras a Primavera? – interrompeu-a Rachel novamente, apontando em redor. – Tudo é novo. A vida enche-se de esplendor.

Ela também gostava da Primavera, sobretudo porque significava o fim do longo Inverno. Odiava chegar e partir da Universidade sempre de noite.

– Rachel, telefonaste a semana passada a pedir-me que te viesse ver. Não achas que seria boa ideia dizeres-me para quê?

Na realidade, o telefonema tinha apanhado Leonie completamente de surpresa, apesar de Luke Richmond pensar que tinha sido ela a pedir o encontro. Uma impressão que gostaria de corrigir, se tivesse oportunidade. Não sabia qual era o propósito de Rachel ao convidá-la para a sua casa e ela não parecia ter pressa em explicar-lhe. Mas estava certa de que não seria para lhe arranjar um lugar entre os ricos e os famosos, como tinha dito Jeremy.

Jeremy...

Leonie sorriu, ao pensar no seu companheiro de Universidade, um mago da informática que conseguia transmitir o seu amor pela tecnologia aos seus alunos.

«Os opostos atraem-se», pensou, então. Ela, interessada no passado, Jeremy, na tecnologia que domaria o futuro. Ele era a razão pela qual não queria chegar tarde a Londres. Tinham combinado jantar...

De repente Rachel soltou-lhe o braço e voltou-se para olhar para ela, muito séria. Naquele momento parecia ter de facto a idade que tinha.

– Não te parece evidente a razão por que te chamei, querida?

– Só disseste que querias falar comigo.

– Mas... então, não sabes porque te convidei a vir a minha casa? – perguntou a actriz, com um gesto de incredulidade.

– Não, não sei.

– Ah, estou a ver. Sabes, li o teu livro de Leo Winston...

– O teu filho já tinha comentado comigo – disse Leonie. – E fico muito contente que tenhas gostado...

– Mas não te pedi que viesses aqui só para te felicitar pelo livro. Poderia tê-lo feito por telefone. Não, querida Leonie, pedi-te que viesses, porque quero que escrevas a minha biografia. Uma biografia oficial – disse Rachel Richmond.

Ela olhou para ela, surpreendida.

Rachel Richmond queria que ela escrevesse a sua biografia!

Não podia ser verdade.