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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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MIA E O MILIONÁRIO, Nº 1364 - Fevereiro 2012

Título original: Mia’s Scandal

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-9010-674-7

Editor responsável: Luis Pugni

Imagem de capa: FRITZ LANGMANN/DREAMSTIME.COM

ePub: Publidisa

Árbol

A DINASTIA BALFOUR

As jovens Balfour são uma lenda britânica, as últimas herdeiras ricas. As filhas de Oscar cresceram no centro das atenções e o sobrenome Balfour raramente deixa de aparecer na imprensa sensacionalista. Ter oito filhas tão diferentes é um desafio.

Olivia e Bella: as filhas mais velhas de Oscar são gémeas não idênticas nascidas com dois minutos de diferença e não podem ser mais diferentes. Bella é vital e exuberante, enquanto Olivia é prática e sensata. A maturidade de Olivia só pode comparar-se com o sentido de humor de Bella. Ambas as gémeas são a personificação das virtudes mais importantes dos Balfour. A morte da mãe, quando eram pequenas, continua a afetá-las, embora expressem os seus sentimentos de maneiras muito diferentes.

Zoe: é a filha mais nova da primeira mulher de Oscar, Alexandra, que morreu tragicamente ao dar à luz. Tal como a sua irmã mais velha, Bella, gosta da vida mundana e costuma exceder-se. Está sempre à espera do próximo evento social. O seu aspeto físico é imponente e os seus olhos verdes diferenciam-na das suas irmãs, mas por detrás da fachada deslumbrante esconde-se um grande coração e o sentimento de culpa pela morte da sua mãe.

Annie: é a filha mais velha de Oscar e Tilly. Annie herdou uma boa capacidade para os negócios, um coração amável e uma visão prática da vida. Gosta de passar tempo com a mãe na mansão Balfour, foge do estilo de vida dos famosos e prefere concentrar-se nos seus estudos em Oxford do que pensar no seu aspeto.

Sophie: a filha do meio é habitualmente a mais tranquila e ela não é uma exceção. Em comparação com as suas irmãs deslumbrantes, a tímida Sophie sempre se sentiu ignorada e não se sente confortável no papel de «herdeira Balfour». Tem o dom das artes e as suas paixões manifestam-se no trabalho de decoração de interiores.

Kat: a mais nova das filhas de Tilly foi protegida durante toda a vida. Depois da morte trágica do padrasto foi mimada por todos. A sua atitude teimosa e mal-educada leva-a a fugir das situações difíceis e está convencida de que nunca se comprometerá com nada nem com ninguém.

Mia: o membro mais recente da família Balfour é a filha ilegítima e meio italiana de Oscar, Mia. Resultado da aventura de uma noite entre a sua mãe e o chefe do clã Balfour, Mia foi criada em Itália e é trabalhadora, humilde e bonita de um modo natural. Para ela, foi difícil descobrir a sua nova família e a desenvoltura social das suas irmãs é difícil de igualar.

Emily: é a mais nova das filhas de Oscar e a única que teve com o seu verdadeiro amor, Lillian. Como é a mais nova da família, as suas irmãs mais velhas adoram-na, ocupa o lugar predileto no coração do seu pai e sempre foi protegida. Ao contrário de Kat, Emily tem os pés bem assentes na terra e está decidida a alcançar o seu sonho de se tornar bailarina. A pressão combinada da morte da sua mãe e a descoberta de que Mia é sua irmã tiraram-lhe as forças, mas Emily tem coragem suficiente para sair de casa do seu pai e seguir o seu caminho sozinha.

PROPRIEDADES DOS BALFOUR

O leque de propriedades da família Balfour é muito extenso e inclui várias residências imponentes nas zonas mais exclusivas de Londres, um apartamento impressionante na parte alta de Nova Iorque, um chalé nos Alpes e uma ilha privada nas Caraíbas muito solicitada pelos famosos… apesar de Oscar ser demasiado seletivo no que diz respeito a quem pode arrendar o seu refúgio. Não está ao alcance de qualquer um.

No entanto, a casa familiar é a mansão Balfour, situada no coração de Buckinghamshire. É a casa que as jovens consideram o seu lar. Com uma vida familiar tão irregular, é o lugar que proporciona segurança a todas elas. É lá que festejam o Natal juntos e, é óbvio, é lá que se celebra o baile de beneficência dos Balfour, o acontecimento do ano, ao qual as pessoas mais importantes da sociedade comparecem e que tem lugar nos jardins paradisíacos da mansão Balfour.

CARTA DE OSCAR BALFOUR PARA AS SUAS FILHAS

Queridas meninas:

Não pode dizer-se que fui um pai muito atento. Foram necessários os acontecimentos recentes e trágicos para me aperceber dos problemas que semelhante descuido causou.

O antigo lema da nossa família era validus, superbus quod fidelis. Ou seja, poderosos, orgulhosos e leais. Baseando-me no cumprimento dos dez princípios seguintes começarei a emendar-me. Vou esforçar-me para encontrar essas qualidades dentro de mim e rezo para que vocês façam o mesmo. Durante os próximos meses espero que todas levem estas regras muito a sério. As tarefas que vou pedir-vos e as viagens que vos mandarei fazer têm por objetivo ajudar-vos a encontrar-se e descobrir como se podem transformar nas mulheres fortes que têm dentro de vocês.

Minhas lindas filhas, descubram como acaba cada uma das vossas histórias.

Oscar

REGRAS DA FAMÍLIA BALFOUR

Estas regras antigas dos Balfour foram transmitidas de geração em geração. Depois do escândalo que se revelou durante a comemoração dos cem anos do baile de beneficência dos Balfour, Oscar apercebeu-se de que as suas filhas careciam de orientação e de propósito nas suas vidas. As regras da família, que ele ignorara no passado, quando era jovem e insensato, voltam a ganhar vida, modernizadas e reinstituídas para oferecer a orientação de que as suas jovens filhas precisam.

1ª regra: Dignidade: Um Balfour deve esforçar-se para não desacreditar o apelido da família com condutas impróprias, atividades criminosas ou atitudes desrespeitosas para com os outros.

2ª regra: Caridade: Os Balfour não devem subestimar a vasta fortuna familiar. A verdadeira riqueza mede-se no que entregamos aos outros. A compaixão é a posse mais valiosa.

3ª regra: Lealdade: Devem lealdade às vossas irmãs. Tratem-nas com respeito e amabilidade.

4ª regra: Independência: Os membros da família Balfour devem esforçar-se para conseguir o seu desenvolvimento pessoal e não contar com o seu apelido ao longo de toda a vida.

5ª regra: Coragem: Um Balfour não deve ter medo de nada. Se enfrentarmos os nossos medos com coragem, conseguiremos descobrir coisas novas sobre nós próprios.

6ª regra: Compromisso: Se fugirmos uma vez dos nossos problemas, continuaremos a fugir eternamente.

7ª regra: Integridade: Não devemos ter medo de conservar os nossos princípios e devemos ter fé nas nossas próprias convicções.

8ª regra: Humildade: Há um grande valor em admitir as nossas fraquezas e trabalhar para as superar. Não podemos descartar os pontos de vista dos outros só porque não concordam com os nossos. Um autêntico Balfour é tão capaz de aceitar um conselho como de o dar.

9ª regra: Sabedoria: Não devemos julgar os outros pelas aparências. A verdadeira beleza está no coração. A sinceridade e a integridade são muito mais valiosas do que o simples encanto superficial.

10ª regra: O apelido Balfour: Ser membro desta família não é só um privilégio de berço. O apelido Balfour significa apoiar os outros, valorizar a família como nos valorizamos e usar o apelido com orgulho. Rejeitar o nosso legado é rejeitar a nossa própria essência.

Para Imelda, a minha mãe maravilhosa, que desfruta dos seus noventa e nove anos de vida. Mãe, obrigado por me inculcares o amor pela leitura e por me encorajares a escrever.

PRÓLOGO

Mia estava escondida entre dois enormes pilares de pedra, sobre os quais se erguiam duas criaturas mitológicas douradas que pareciam querer atirar-se a pique.

Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Teve de desviar o olhar da presença observadora daquelas criaturas para que o seu olhar fixo não a fizesse perder a cabeça. Aqueles seres aterradores chamados grifos eram metade águia e metade leão e Mia vira-os antes no brasão familiar que decorava a página de internet dos Balfour, juntamente com o lema familiar: Validus, superbus quod fidelis. Poderosos, orgulhosos e leais.

Dio… – sussurrou e emitiu um suspiro trémulo.

Sentia-se tão intimidada com a opulência daquela majestosa entrada que o nó que sentia no estômago pareceu aumentar.

O barulho do motor do táxi que a trouxera do aeroporto desaparecia lentamente atrás dela. Estava sozinha sob a luz fraca do sol de fevereiro que se filtrava entre os ramos das árvores.

Era estranho pensar que, há apenas uma semana, tinha uma vida tranquila com a sua tia na Toscana rural, completamente alheia à existência de uma família inglesa sofisticada chamada Balfour e mais ainda ao facto de ela estar relacionada com aquele apelido famoso.

Ainda continuaria sem saber nada se a pessoa fria e distante que era a sua mãe não tivesse feito ouvidos moucos às suas súplicas e a tivesse deixado ir visitá-la. Face à negativa da sua mãe, a tia Giulia decidira que chegara o momento de revelar o segredo que guardava há vinte longos anos.

E agora Mia ia conhecer Oscar Balfour, o patriarca orgulhoso da família Balfour, homem de negócios poderoso e multimilionário. Marido de três esposas diferentes e pai de sete bonitas filhas. Oito, retificou Mia, sentindo o estômago às voltas.

Um homem que fora abençoado com sete filhas quereria outra?

Aquela era a pergunta que queria fazer-lhe. Precisava de enfrentar Oscar Balfour e de saber como reagiria face à sua existência. Se se recusasse a reconhecê-la, só perderia mais um bocadinho do seu coração. A rejeição fria da mãe já partira um grande pedaço, portanto a do seu pai não poderia ser mais dolorosa.

E também havia a possibilidade de estar preparado para lhe dar as boas-vindas.

Mordendo o lábio inferior, trémula, Mia baixou-se para agarrar na mala e, depois, endireitou-se. Endireitou os ombros e puxou a mala de rodas. O seu coração estava acelerado e sentia uma tensão no peito que lhe dificultava a respiração. Quando deu o primeiro passo, um calafrio de tensão subiu-lhe pelas costas. Durante um instante, sentiu-se ligeiramente maldisposta e teve de fechar os olhos.

Quando voltou a abri-los, deu por si a olhar para um caminho comprido ladeado por árvores que deviam estar naquele lugar há muitas gerações. Não conseguia ver a casa devido à inclinação do terreno, mas sabia que estava lá, a defender a sua intimidade dos curiosos naquele vale isolado, segundo indicava a página de internet.

A única coisa que tinha de fazer era andar entre aquelas duas fileiras de árvores, pensou, e avançou, consciente de que no seu interior estava a tremer de medo, mas sentindo ao mesmo tempo uma emoção avassaladora que corria pelo seu sangue como o fogo.

Nikos Theakis não era um homem propenso a excessos emocionais. Na verdade, gabava-se da atitude fria e profissional com que enfrentava a maioria das facetas da sua vida. No entanto, enquanto conduzia naquela manhã depois do pequeno-almoço com Oscar, não havia nada de frio nem de profissional nele.

Estava emocionado. Toda a família Balfour estava e a única que parecia estar a aguentar-se bem era a própria Lillian Balfour.

Praguejou em silêncio quando a imagem da bonita, pálida e frágil mulher de Oscar surgiu na sua mente, sorrindo com valentia enquanto se despedia para sempre dele. A emoção apoderou-se de Nikos, que carregou com mais força no acelerador, como se a velocidade pudesse afastá-lo daquela sensação estranha para ele. O carro avançou depressa, saiu do vale e dirigiu-se para o caminho cheio de ramos nus da saída da quinta dos Balfour.

Não estava concentrado. Nikos soube assim que a viu ali parada, mesmo à frente dele. Durante alguns segundos aterradores, pensou que estava a ver uma aparição fantasmagórica vestida de preto e foi por isso que se esqueceu de travar.

Nunca sentira algo parecido. Nas décimas de segundo que demorou a voltar para a realidade, o seu olhar de espanto absorvera cada centímetro delicioso daquela mulher, desde o cabelo preto e brilhante que emoldurava o seu rosto ovalado até à forma voluptuosa do seu corpo, tapado por um casaco justo e uma saia que marcava a silhueta sinuosa das suas ancas. Por alguma estranha razão, reparou que calçava botas, umas botas pretas de pele de salto alto. Então, a realidade atingiu-o com a força de uma descarga elétrica e, praguejando, carregou com força no pedal do travão.

Mia ficou paralisada ao ver aquele monstro prateado que se precipitava para ela. Ouviu-se um barulho e o carro aproximou-se cada vez mais até parar finalmente a dois centímetros dela.

O motor fez barulho, o capô prateado tremeu e o silêncio regressou rapidamente. Nikos recostou-se no banco e ficou a olhar com o coração acelerado e os dedos ainda agarrados ao volante. Pensava que não ia conseguir parar a tempo. Não sabia se realmente conseguira fazê-lo. Continuou sentado, chocado, à espera que lhe desse algum sinal, afastando-se para lhe demonstrar que não a magoara ou caindo no chão.

«Meu Deus, é linda», disse-lhe o seu cérebro estupefacto e terminou a observação com uma onda de testosterona que se acumulou entre as suas pernas. Reagindo com fúria, Nikos abriu a porta do carro e saiu.

– O que pensa que está a fazer? – perguntou, com raiva. – Quer morrer? Porque não se afastou do meu caminho?

Mia teve de usar toda a sua força para respirar. O seu cérebro ganhou finalmente vida e conseguiu levantar os olhos do carro para os fixar nele. Sofreu um segundo choque ao perceber que era o homem mais bonito que alguma vez vira.

E dirigia-se para ela como um gladiador a caminho da guerra. Só que aquele gladiador tinha um casaco preto sobre os ombros impressionantes e um fato cinzento elegante de três peças por baixo. A camisa era branca e a gravata era de um tom apagado.

Aproximou-se de um lado do carro e parou para ver como estivera perto de lhe destroçar as pernas frágeis. Os seus olhos mostravam fúria quando lhe rodeou a cintura com as mãos e a levantou do chão. Estava tão concentrado no que fazia que não ouviu como Mia sustinha a respiração, assustada, nem o som da sua mala a bater no chão. Ela deu por si a olhar diretamente para os seus olhos escuros, emoldurados por umas sobrancelhas largas e tão pretas como o seu cabelo.

– Estúpida – queixou-se Nikos. – Diga alguma coisa, pelo amor de Deus. Está bem?

Mia assentiu com a cabeça como se fosse uma marionete.

– Quase… quase me matou… – sussurrou.

– Consegui não a atropelar – corrigiu-a Nikos. – Devia agradecer os meus reflexos e a minha habilidade ao volante.

– Pensa que conduzir como um lunático mostra que é hábil, signore ?

– E acha que é inteligente ficar parada no meio de um caminho privado quando um carro se dirige para si, signorina ? – perguntou ele.

Como se acabasse de perceber que pegara nela ao colo, Nikos murmurou alguma coisa e pô-la no chão, longe do para-choques do seu carro. A imprevisibilidade de toda a situação fez com que os reflexos paralisados de Mia entrassem em ação e se agarrasse a ele para não cair. Nikos segurou-a. Ela ficou a olhar para os músculos e para a força viril antes de se soltar. Sentia as pernas fracas quando se afastou dele, viu a sua mala caída no chão, alguns metros mais à frente, e foi apanhá-la.

Com as mãos nos bolsos, Nikos observou como se inclinava para agarrar a alça da mala com dedos trémulos e não conseguiu evitar observar a forma atraente do seu rabo sob a saia.

«Bonito», pensou, e franziu o sobrolho quando outra onda de calor o atravessou. Consultou o seu relógio e viu que era tarde. Tinha de entrar num avião. Acabara de passar por uma das piores situações que tivera de enfrentar e ali estava, a admirar o rabo de uma desconhecida que quase atropelara. Deixou escapar um suspiro, incomodado.

– Tente continuar pela beira do caminho – recomendou à jovem, com altivez. – E, na verdade – acrescentou, abrindo a porta do carro, – se é a nova empregada que todos esperam tão ansiosamente, deixe-me dizer-lhe que se excedeu com a roupa.

Sacudindo o pó da mala, Mia pestanejou. Empregada? Excesso? Roupa? Precisava de tempo para analisar o que lhe dissera, para que fizesse sentido. Então, entendeu. O desconhecido pensava que tinha ido à mansão Balfour assim vestida para se candidatar para um emprego.

A dor causou-lhe um nó no estômago. Nunca se sentira tão humilhada. Com uma atitude fria de dignidade ferida virou-se e deu a volta ao carro de luxo, puxando a sua mala, sem se incomodar em olhar para ele.

Mia conteve uma gargalhada amarga. Aprendera inglês enquanto trabalhava como empregada para um velho professor que possuía uma villa perto de sua casa. Pagava-lhe para manter a casa limpa e cozinhar para ele e também a deixara usar a sua biblioteca e o seu computador, desde que escrevesse as páginas do seu livro interminável e aborrecido. O curso de inglês era de graça. Depois, Mia andava dois quilómetros para voltar para casa e estudava antes de passar a noite a ajudar a tia Giulia com os trabalhos de costura. Era assim que complementavam os ganhos que a sua tia obtinha do cultivo e venda de flores.

Normalmente, calçava sapatos rasos e vestia calças de ganga gastas ou algum dos vestidos que usava durante o verão quente da Toscana. Pela primeira vez na sua vida, vestira uma coisa nova, uma coisa que não fora ela a fazer com um pouco de tecido. E aquele homem horrível do carro prateado e do fato cinzento elegante destruíra a sua autoestima com algumas palavras.

Nikos semicerrou os olhos enquanto a via a afastar-se pelo caminho… Pelo meio, em claro desafio. Cerrou os dentes e, em vez de entrar no carro e sair dali, ficou a olhar para ela durante mais alguns segundos, atraído pelo movimento gracioso das suas curvas finas, a faísca do seu caráter e o eco do seu sotaque. Supôs que era italiana.

E muito jovem, pensou.

Demasiado jovem para ser empregada de limpeza.

As primeiras sombras de dúvida assaltaram-no. Ter-se-ia enganado e teria insultado alguma amiga das filhas de Oscar?

Nikos franziu o sobrolho e voltou a entrar no carro para sair dali. Fosse quem fosse a jovem, esperava que soubesse que estava a entrar na quinta dos Balfour. Caso contrário, teria um grande choque quando chegasse.

Mia já estava impressionada, porque vislumbrara a mansão Balfour ao longe.

Nada do que vira ou lera na Internet a preparara para a beleza imponente do que estava a ver. Num vale pouco profundo, a casa de pedra era pelo menos dez vezes maior do que imaginara, com fileiras sobrepostas de grandes janelas grandes que brilhavam sob a luz pálida do sol.

Mia começou a sentir calafrios de ansiedade enquanto percorria o caminho para o vale e ladeava a margem de um bonito lago, reluzente como um vidro congelado. Quanto mais se aproximava da casa, mais intimidada se sentia por ela. Era enorme. Colunas palacianas seguravam uma entrada de forma circular. Quando passou entre elas, sentiu-se diminuída. Deixou a mala de um lado da porta e pensou «agora ou nunca» enquanto se punha à frente da porta pesada de carvalho.

Já não sabia se queria fazer aquilo, mas sabia que lamentaria se voltasse para trás, porque nunca reuniria a coragem para tentar uma segunda vez.

Mia estendeu a mão, agarrou no sino antigo e tocou com força. Depois, afastou-se e esperou que alguém aparecesse.

Nunca se sentira tão assustada.

Nunca nada fora tão importante para ela como aquilo.

Tensa, com as mãos a tremer e os olhos esbugalhados, viu como a porta se abria. A última pessoa que esperava encontrar era o próprio Oscar Balfour.

Era mais alto e muito mais atraente do que imaginara. Tinha o cabelo branco como a neve. Quando franziu o sobrolho, pareceu-lhe tão severo que quase deu a volta e fugiu. Se lhe perguntasse se era a nova empregada, Mia decidiu que fugiria. Mas não perguntou.

– Olá, jovem – disse, com um sorriso.

Era um sorriso bonito que iluminou os seus olhos azuis profundos.

Uns olhos da mesma cor que os dela.

Bon… bon giorno, signore – estava tão nervosa que não conseguiu evitar cumprimentá-lo em italiano. Engoliu em seco e mudou para o inglês. – Não sei se… se sabe da minha existência, o meu nome é Mia Bianchi. Disseram-me que é o meu pai.

CAPÍTULO 1

Pela primeira vez depois de três meses de viagens compridas e duras, Nikos Theakis atravessou as portas de entrada dos seus escritórios de Londres e conseguiu imediatamente a atenção de todos os presentes no vestíbulo moderno de granito e vidro.

Alto e moreno, abençoado com a classe esbelta e dura dos atletas, o ar carregava-se de energia no seu caminho. Todos o cumprimentavam com falta de ar ao vê-lo passar. Trabalhar para ele era como viajar de foguete para as estrelas. Excitante, cansativo, às vezes, assustador porque assumia riscos que mais ninguém estava disposto a correr. Estava comprometido com o seu trabalho e era famoso por nunca se enganar.

Franziu o sobrolho e as suas sobrancelhas escuras juntaram-se sobre a ponte do nariz, reta e arrogante. As suas feições gregas, clássicas, estavam concentradas na conversa que tinha pelo telemóvel enquanto se dirigia para os elevadores do vestíbulo.

– Em nome de Deus, Oscar – praguejou em voz baixa. – Trata-se de uma brincadeira?

– Não é nenhuma brincadeira – insistiu Oscar Balfour. – Pensei muito nisto e agora peço-te ajuda. A menos que já sejas demasiado importante para ajudar um velho amigo…

Nikos carregou no botão do último andar, retirou o botão de punho brilhante da camisa para poder ver as horas no relógio de platina e conteve o desejo de praguejar. Há menos de uma hora que regressara ao país depois de passar semanas a viajar pelo mundo como um maldito satélite, tentando reunir um pacote de medidas para sair da crise que os seus sócios internacionais tinham causado ao acovardar-se. Estava cansado, faminto e tinha o horário mudado, mas lá em cima esperava-o o conselho de direção, ansioso por ouvir o resultado final das suas gestões.

– Não me ponhas contra a espada e a parede! – exclamou, impaciente.

– Elogia-me que penses que ainda posso fazê-lo –replicou Oscar.

– E não mudes de assunto – acrescentou Nikos, consciente de que Oscar era o rei da manipulação. – Diz-me que demónios queres que faça com uma das tuas filhas mimadas.

– Para começar, que não vás para a cama com ela.

Nikos, que ia sair do elevador para o corredor luxuoso do último andar, ficou um instante paralisado ao ouvir aquela frase. A afronta fê-lo arquear a cabeça escura e orgulhosa.

– Isso não teve graça nenhuma – assegurou, com fria dignidade. – Nunca pus um dedo em cima de nenhuma das tuas filhas. Seria…

– Uma falta de respeito por mim?

– Exatamente – afirmou Nikos.

Fora graças a Oscar que se transformara no homem que era e manter uma distância respeitosa das suas bonitas filhas era uma questão de honra.

– Obrigado – murmurou Oscar.

– Não quero que me agradeças – Nikos começou a andar pelo corredor com o seu passo elegante. – Nem quero que nenhuma das tuas filhas decorativas passeie pelos meus escritórios para fingir que é uma assistente pessoal eficaz só para te agradar – afirmou. – Em qualquer caso, de onde vem esta decisão repentina de as pôr a trabalhar? – perguntou, com curiosidade, ao mesmo tempo que abria a porta dos seus escritórios.

A sua secretária, Fiona, levantou o olhar do ecrã do computador e lançou-lhe um sorriso de boas-vindas. Nikos apontou para o telemóvel enquanto lhe dava uma série de instruções com a mão. A eficaz Fiona mostrou com uma inclinação da sua cabeça loira que entendera e deixou que se fechasse no seu escritório.

Quando fechou a porta, apercebeu-se do silêncio que havia do outro lado da linha. Franziu o sobrolho, porque Oscar Balfour possuía um cérebro que funcionava à velocidade da luz, portanto os silêncios de qualquer tipo eram algo pouco habitual nele.

– Estás bem? – perguntou, com cautela.

Oscar deixou escapar um suspiro.

– A verdade é que não – admitiu. – Comecei a perguntar-me o que fiz nos últimos trinta anos da minha vida.

– Sentes a falta de Lillian – murmurou Nikos.

– Todos os minutos de todas as horas do dia – confirmou Oscar. – Vou para a cama a pensar nela, passo a noite a sonhar com ela e acordo a procurar o calor do seu corpo ao lado do meu na minha cama.