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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Spencer Books Limited

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Recordações de um amor, n.º 1267 - abril 2018

Título original: The Costanzo Baby Secret

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-284-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Às dez da manhã de segunda-feira, dia 4 de Setembro, exactamente um mês depois do acidente, Dario Costanzo recebeu a chamada de telefone que temera não receber.

– Tenho notícias, signor Costanzo – anunciou Arturo Peruzzi, o chefe de neurologia que se ocupava do caso de Maeve. – Esta manhã a sua esposa despertou do coma.

Intuindo pelo tom do cirurgião que havia mais alguma coisa, Dario teve de fazer um esforço para permanecer calmo. Durante as últimas semanas lera e estudara o suficiente para saber que os danos neurológicos devido a um golpe na cabeça poderiam ter muitas consequências, nenhuma delas era boa.

– Mas alguma coisa não está bem, não é assim, doutor?

– Receio que sim.

Dario acreditara estar preparado, mas descobriu que na verdade, não estava. A última vez que vira Maeve, com a cabeça cheia de ligaduras e ligada a uma série de máquinas e tubos para a manterem viva, contrastava horrivelmente com o seu aspecto antes do acidente: bonita, elegante, cheia de encanto.

Era um raio de sol.

Era sua. E agora?

Abruptamente, Dario deixou-se cair em frente da sua secretária, receando que as pernas não o segurassem.

– Pode dizer-me o que se passa?

– Fisicamente mostra muitos sinais de recuperação. Naturalmente, ainda está muito fraca, mas com a fisioterapia adequada estamos certos de que recuperará e poderá voltar para casa. O problema, signor Costanzo, é a sua mente.

Oh, Dio, isso não! Não queria sequer imaginar que Maeve se transformara num vegetal.

– …Não quero alarmá-lo inutilmente – continuou o neurologista. – É uma coisa comum depois de um traumatismo crânio-encefálico e não é tão grave como se possa imaginar.

Pensando que tinha tirado a pior conclusão possível, Dario decidiu ouvir o neurologista.

– O que está a sugerir, doutor Peruzzi?

– Não estou a sugerir nada, estou a dizer que a sua esposa sofre de amnésia. Resumindo, não tem lembranças… do seu passado recente.

A hesitação do doutor foi breve, mas bastante significativa para despertar, de novo, os medos de Dario.

– Até que momento? Não se recorda do acidente?

– Isso é o que torna esta amnésia fora do comum. Em geral, a amnésia retrógrada refere-se só aos eventos que tiveram lugar imediatamente antes do trauma. Neste caso, no entanto, a perda de memória da sua esposa estende-se a um período mais longo. Lamento dizer-lhe que parece não se recordar de si nem da sua vida de casada.

Amnésia retrógrada, amnésia psicogénica, amnésia histérica… termos que não tinham significado nada para Dario um mês antes, mas com os quais se familiarizara neste último mês.

– Está a dizer que a amnésia é psicológica em vez de fisiológica?

– É o que parece – respondeu o doutor Peruzzi. – Mas a boa notícia é que raramente é uma condição permanente. Com o tempo, é praticamente certo que a sua esposa recuperará a memória.

– Quanto tempo?

– Isso não podemos prever. Pode recordar-se de tudo assim que voltar a um sítio que lhe seja familiar, mas certamente demorará dias ou talvez semanas, com lembranças ou retalhos de lembranças que voltarão a pouco e pouco. O que deve perceber é que não vai ganhar nada tentando forçá-la a recordar-se seja do que for, seja por que razão for, não consegue recordar-se de nada. Fazê-lo seria em detrimento do seu bem-estar. Mas isto, signor Costanzo, leva-me ao aspecto mais importante desta conversa: nós já fizemos a nossa parte. Agora você deve fazer a sua.

– Como?

Como. Esta palavra açoitara-o durante um mês, suplicando respostas que ninguém lhe podia dar. Como pudera ignorar o descontentamento de Maeve? Como, afinal de contas, eles se tinham comprometido um com o outro quando ela poderia ter procurado outro homem? Como podia ter demonstrado tão pouca fé nele, no seu marido?

– A paciência é a chave para o sucesso. Pode levá-la para casa, mas não deve expô-la imediatamente a estranhos. Deve fazer com que se sinta segura e a salvo consigo.

– Como vou fazer isso se ela nem sequer se lembra de mim?

– Quando ela tiver recuperado um pouco explicar-lhe-emos quem você é. Não temos outro remédio senão fazê-lo porque deve saber que não está sozinha no mundo. Mas perdeu um ano da sua vida, uma experiência aterradora para qualquer um. Faça-a ver que se importa com a pessoa que ela recorda que é. E depois, quando tiver um pouco mais de confiança, vá-lhe apresentando a pouco e pouco o resto dos membros da família.

– O resto da minha família inclui o nosso filho de dezassete meses. O que sugere que faça com ele até lá? Devo dizer-lhe que é filho da empregada?

– O sentimento de culpa ao descobrir que tem um filho do qual não se recorda poderia deixar-lhe cicatrizes emocionais permanentes. Esse assunto é o mais delicado de todos porque vai contra a natureza de uma mulher ter esquecido que teve um filho.

– Estou a ver.

E era verdade, sem dúvida: Maeve tinha despertado do coma, mas não estava curada.

– Mais alguma coisa?

– Sim – respondeu o neurologista. – Neste momento, não espere que Maeve seja sua esposa em todos os sentidos. A intimidade com um homem que, embora seja o seu marido, para ela é um completo estranho é uma complicação que devemos evitar a qualquer custo.

Fantástico. Não podia fazer uso da única coisa que sempre funcionara entre eles. E, além disso, teria de mandar Sebastiano para casa da sua irmã.

– Posso fazer mais alguma coisa, além de dormir noutro quarto e enviar o meu filho para outro sítio?

– Claro que sim – respondeu Peruzzi. – A sua mulher perdeu a memória não o intelecto, de modo que lhe fará perguntas. Responda honestamente, mas não elabore as respostas e, sobretudo, não tente apressá-la. Pense em cada dado que lhe revelar como um traço na tela vazia da sua memória. Quando tiver preenchido traços suficientes, ela começará a preencher o resto por si mesma.

– E se não gostar do que for descobrindo?

– Então será imperativo que você, signor Costanzo, continue a apoiá-la. Maeve deve saber que pode confiar em si, independentemente do que tenha ocorrido no passado. Pode fazer isso?

– Sim – respondeu ele. – Enquanto isso, posso visitá-la?

– Não posso proibi-lo, mas sugiro-lhe que não o faça. Agora o importante é que ela recupere fisicamente e o seu aparecimento só serviria para comprometer essa recuperação.

– Entendo – murmurou Dario. – E agradeço-lhe muito que me tenha telefonado.

– Oxalá tivesse notícias tão boas para todos os meus pacientes – suspirou o médico. – Voltarei a ligar-lhe quando Maeve estiver preparada para voltar para casa. Enquanto isso, pode ligar-me quando quiser para pedir informações sobre os progressos da sua esposa. A mim ou a qualquer membro da equipa. Ciao, signor Costanzo, e boa sorte!

Grazie e ciao!

Depois de desligar, Dario aproximou-se da janela, pensativo. No jardim da casa, em frente ao seu escritório, estava Marietta Pavia, a ama que contratara depois do acidente, sentada sobre uma manta, a brincar com Sebastiano.

Que uma mulher pudesse esquecer um marido de quem estava cansada era compreensível, embora não muito lisonjeador, mas como era possível que Maeve tivesse esquecido o seu filho?

Atrás dele, uma voz autoritária interrompeu os seus pensamentos:

– Ouvi o suficiente para saber que Maeve está melhor.

Dario voltou-se para enfrentar a sua visitante. Com o cabelo preto preso num coque perfeito, um imaculado vestido de cor creme e um colar de pérolas ao pescoço, Celeste Costanzo poderia ter passado por uma mulher de quarenta e cinco anos quando na verdade estava prestes a fazer sessenta.

– Pareces vestida para uma festa, mas deverias estar a relaxar na ilha, mãe.

– Estar fora do olhar público em Pantelleria não é razão para não me vestir bem… e não mudes de assunto. O que te disse o neurologista?

– Que Maeve saiu do coma e espera que se recupere completamente.

– Então vai sobreviver?

– Tenta disfarçar a tua desilusão – suspirou Dario. – Afinal de contas, é a mãe do teu neto.

– Depois do que se passou, não entendo porque é que continuas a defendê-la.

– Mas essa é a questão, mãe, não sabemos o que aconteceu. Das duas pessoas que poderiam saber, uma está morta e a outra perdeu a memória.

– Ah, então esse é o jogo dela agora, não é? Fingir que não se recorda de nada, que não tinha tentado deixar-te e levar a criança – a mãe fez um gesto de desprezo. – Que conveniente para ela!

– Isso é uma tolice e tu sabes. Maeve não está em posição de fingir e mesmo que assim fosse, os médicos têm demasiada experiência para não se aperceberem.

– Então tu acreditas nesse diagnóstico?

– Tenho que acreditar e tu também.

– Receio que não, filho.

– Aconselho-te a que repenses a tua posição, se queres ser bem-vinda a minha casa – respondeu Dario.

Celeste empalideceu.

– Sou a tua mãe!

– E Maeve continua a ser a minha mulher.

– Durante quanto tempo? Até que decida voltar a partir? Até que um dia descubras que Sebastiano vive no outro lado do mundo e chama «papá» a outro homem? Diz-me o que tenho de fazer para que vejas que tipo de mulher ela é…

– É a mãe do meu filho – interrompeu ele. – E faz o favor de não repetires que não te parece uma boa mãe ou uma boa esposa.

– Não terei de fazê-lo, Dario. Maeve recordar-te-á isso em breve.

 

 

Todos na clínica, desde o enfermeiro ao médico, se foram despedir dela.

Quando lhes perguntou o que se tinha passado, só respondiam que tinha tido um acidente de trânsito e que não devia preocupar-se porque recuperaria a memória mais cedo ou mais tarde.

Eles negavam-se a dizer-lhe quem pagava as contas do hospital ou enviava as flores… todos excepto uma jovem auxiliar a quem lhe tinha escapado que era «ele» antes que a chefe das enfermeiras a fulminasse com o olhar.

Quem era «ele»?, queria perguntar Maeve. Embora soubesse que não conseguiria obter respostas.

– Posso perguntar pelo menos para onde vou quando sair daqui?

– É claro – respondeu a enfermeira, adoptando o tom que usaria com uma criança. – Para o sítio onde vivia antes, para o pé das pessoas que a amam.

Onde seria esse sítio e quem seria essa gente?, questionou-se Maeve.

Uns dias antes de os médicos lhe darem alta, disseram-lhe que passaria a sua convalescença num lugar chamado Pantelleria, do qual ela nunca ouvira falar.

– Quem é que estará ali à minha espera?

– Dario Costanzo…

Também nunca tinha ouvido falar dele.

– O seu marido – disse o médico então.

Isso tinha-a deixado sem fala.

Reunidos agora ao redor da limusina preta que esperava à porta do hospital, todos lhe desejaram uma rápida recuperação.

– Sentiremos saudades.

– Venha visitar-nos quando quiser, mas desta vez pelo seu próprio pé.

E, de repente, depois de tantos dias em que a única coisa que queria era sair do hospital, Maeve começou a sentir medo. Aquela gente era a sua âncora ao presente. Tudo o que ocorrera antes era um vazio, um borrão negro, um capítulo perdido da sua vida. Estar prestes a redescobri-lo, e ao homem com quem, aparentemente, se casara, deveria enchê-la de felicidade. Em vez disso, estava aterrorizada.

 

 

 

 

Reparando no seu pânico, uma jovem enfermeira tocou-lhe no braço.

– Não se alarme, eu acompanho-a até ao aeroporto.

A ideia de se misturar com gente assustava-a. Olhou-se ao espelho e sabia que, apesar do exercício, da boa alimentação e das horas que tinha passado no jardim do hospital, estava muito magra e muito pálida. O seu cabelo, outrora longo e espesso, agora era curto e mal cobria a cicatriz sobre a sua orelha esquerda. A roupa caía-lhe como se tivesse perdido uma tonelada de peso ou sofresse de alguma doença terrível.

Mas não podia fazer nada.

Em vez de se dirigir ao terminal, a limusina seguiu um caminho que levava a uma pista onde a esperava um jacto privado, com um assistente de bordo uniformizado à porta.

Que tipo de homem era o seu marido?, questionou-se Maeve. Ela tinha crescido num bairro operário em Vancouver, era filha única de um canalizador e de uma operadora de caixa de supermercado.

Recordando os seus pais, e quanto tinham amado a menina que nasceu quando já tinham perdido toda a esperança, fez com que os seus olhos se enchessem de lágrimas.

Se continuassem vivos teria ido para casa deles, naquela rua ladeada por árvores, a meio quarteirão do parque onde aprendera a andar de bicicleta.

A sua mãe far-lhe-ia um bolo de framboesa e o seu pai voltaria a dizer-lhe como estava orgulhoso dela. Mas os dois tinham morrido; o seu pai umas semanas depois de se reformar, a sua mãe três anos depois. A casa fora vendida.

E por isso Maeve, física e emocionalmente esgotada, via-se presa no elegante assento de couro do luxuoso jacto privado, dirigindo-se para uma vida que para ela não passava de um grande ponto de interrogação.